[object Object]

Dar a Ouvir 2025 convida a escutar com o corpo, sentindo o som até 31 de agosto

O festival regressa a Coimbra para a sua 9.ª edição, mantendo viva a missão com que nasceu em 2017: proporcionar experiências sonoras profundas e transformadoras. A iniciativa, promovida pelo Jazz ao Centro Clube em parceria com o Convento São Francisco, tem evoluído para uma reflexão mais ampla sobre os modos de escuta — indo além do ouvido e envolvendo o corpo e a perceção.

Com o subtítulo “a materialidade e a consciência do som”, a edição de 2025 desafia-nos a repensar o ato de ouvir. “Será que é possível escutar com o corpo? Como escutam aqueles que não ouvem pela via convencional?”, pergunta José Miguel, diretor do JACC. A proposta é abrir espaço para novas sensibilidades, tornando a escuta um gesto inclusivo e sensorial.

O corpo como instrumento

A programação deste ano destaca a participação da comunidade surda, com destaque para a artista Beatriz Romano, natural de Coimbra. Apesar da perda auditiva severa que vive desde a infância, Beatriz construiu um percurso artístico que desafia os limites convencionais da audição.

No dia 20 de julho, apresenta um espetáculo que explora formas alternativas de sentir o som, recorrendo ao movimento, à vibração e à linguagem visual. A apresentação será precedida por uma oficina com estudantes da Escola Silva Gaio, referência nacional no ensino bilíngue para surdos. É um convite a escutar não apenas com os ouvidos, mas com o corpo inteiro.

“Três Campos”: uma exposição para escutar e sentir devagar

A instalação central do festival é a exposição “Três Campos”, assinada por Pedro Tudela e Miguel Carvalhais, que celebram 25 anos de colaboração nas artes sonoras. A mostra ocupará três espaços do Convento São Francisco, entre os dias 18 de julho e 31 de agosto.

Longe de ser apenas uma experiência auditiva, a exposição convida os visitantes a envolverem-se com o espaço de forma sensorial: caminhando, observando e escutando ativamente. A instalação transforma o Convento num corpo vivo de som, onde o tempo abranda e a atenção se torna parte da obra.

Passeio sonoro no Choupal: descobrir com os sentidos

Outro momento especial da programação será o passeio sonoro orientado por Luís Antero, investigador e criador sonoro com uma longa ligação à cidade. A atividade, com vagas limitadas, foi especialmente pensada para incluir pessoas cegas, mas está aberta a todos. Ao caminhar pelo Choupal, os participantes são convidados a prestar atenção a sons, texturas e atmosferas que normalmente passam despercebidos. O objetivo: ver com os ouvidos, tocar com a escuta. José Miguel dá indicação de como os participantes se podem inscrever.

O festival volta também a destacar o Arquivo Digital do Centro Histórico de Coimbra, disponível online desde 2017 em arquivochc.uc.pt. Criado por Luís Antero, em colaboração com o Departamento de Engenharia Informática e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o projeto reúne gravações e memórias sonoras da cidade.

Todas as atividades do Dar a Ouvir 2025 são gratuitas, refletindo um compromisso claro com a inclusão — seja ela física, sensorial ou económica. A programação decorre ao longo de várias semanas, com especial intensidade nos fins de semana de 18 a 20 de julho e 30 a 31 de agosto.

Para José Miguel, o festival é para todos, mas com um único pré-requisito: a vontade de parar e escutar. “Vivemos num mundo de ruído constante e distração. Aqui, convidamos as pessoas a escutar com tempo, com atenção e com o corpo. Isso pode ser uma experiência simples — mas profundamente transformadora.”

A exposição inaugura esta sexta-feira às 21h30 com uma visita guiada e um concerto. A 9.ª edição do “Dar a Ouvir” com o lema “A materialidade e a consciência do som” decorre até domingo , dia 31 de agosto.

Toda a programação pode ser consultada aqui.

Fotografia: CMC@Catarina Gralheiro

 

PARTILHAR: