![[object Object]](/_next/image?url=https%3A%2F%2Fbucket.ruc.pt%2Fwp-content%2Fuploads%2F2025%2F04%2F24205518%2F20250424_215338-scaled.jpg&w=3840&q=75)
Juventude, Liberdade e Futuro marcam 25 de Abril na RUC
No dia em que celebrámos os 51 anos da Revolução dos Cravos, a Rádio Universidade de Coimbra reuniu convidados para mais um momento de reflexão sobre o que mudou no nosso país com a alteração de regime promovido pelo Movimento das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974.
Cristiana Oliveira e Mariana Caparica, editoras de informação, moderaram o encontro que assinalou meio século da conquista da Liberdade, do voto das mulheres, do fim da censura, do fim da PIDE, da repressão política e fim da guerra colonial.
Um dia em que, simbolicamente, os cravos ocuparam os canos das espingardas.
Apesar dos desafios ainda existentes, Portugal hoje é, “sem dúvida”, um país mais livre e mais justo do que há 51 anos. Para refletir sobre este caminho de transformação e sobre o papel da juventude na construção da democracia, a RUC contou com a presença de quatro convidados: Raquel Costa, artista visual e autora do livro 25 Mulheres, Rui Bebiano, historiador e antigo diretor do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, Pierre Marie e Eduardo Albuquerque da Rebobinar.
O papel da juventude na Revolução e no presente
A conversa iniciou com a pergunta: qual foi o papel dos jovens no 25 de Abril e o que ainda falta fazer hoje?
Raquel Costa sublinhou o papel dos movimentos estudantis e da educação como armas poderosas contra a repressão. Referiu que a juventude, com a sua esperança e ousadia, “é essencial em qualquer transformação social”.
Rui Bebiano, que viveu o 25 de Abril aos 20 anos enquanto cumpria o serviço militar, partilhou a sua experiência pessoal. Lembrou que a Revolução foi feita, em grande parte, por jovens capitães de Abril, muitos deles com apenas 25 ou 26 anos. Enfatizou que a energia, a coragem e a falta de amarras da juventude foram decisivas para a mudança.
Pierre Marie acrescentou que o 25 de Abril abriu um espaço de oportunidade para a construção do futuro. Sublinhou que a revolução não terminou nesse dia — exigiu (e exige) construção contínua do novo regime, de uma sociedade mais justa e solidária, tarefas que naturalmente implicam a juventude.
Eduardo Albuquerque reforçou que sem o envolvimento dos jovens a revolução teria morrido cedo. Destacou que o espírito de mudança dos mais novos foi fundamental para manter viva a chama da liberdade. Para o investigador o 25 de Abril continua, ainda hoje, a ser um “projeto inacabado”.
A juventude de hoje: entre a liberdade e a indiferença
Avançando na reflexão, debateu-se, se numa eventual crise democrática, a juventude de hoje teria o mesmo envolvimento que teve há 51 anos.
Rui Bebiano lembrou que cada geração é diversa e que hoje, mais do que falta de politização, enfrentamos uma preocupante “indiferença” em muitos jovens, facilitada por uma sociedade muito ligada a redes sociais, mas muitas vezes distante da reflexão crítica.
Pierre Marie e Eduardo Albuquerque acrescentaram que, embora hoje haja mais liberdade, muitos jovens cresceram sem sentir diretamente o peso da opressão e da ditadura. Isso pode gerar uma certa indiferença. Contudo, acreditam que, em caso de real ameaça, esta geração seria capaz de acordar e mobilizar-se — talvez de forma diferente, mas não menos significativa.
Aproximar o 25 de Abril das Novas Gerações
Vivemos tempos de grandes desafios para a memória coletiva. A geração atual é, sem dúvida, a mais instruída e os primeiros verdadeiros nativos digitais. Contudo, como lembra Raquel Costa, o fácil acesso à informação não significa maior preparação para lidar com ela. Faltam ferramentas críticas e há quebra na transmissão de memória histórica pelas gerações anteriores. Torna-se por isso importante proporcionar espaços de diálogo e manter vivas as memórias do que foi conquistado no 25 de Abril.
É também fundamental nomear os erros do passado, compreender contra o que se lutou e reconhecer os privilégios que, por vezes, alimentam saudosismos infundados.
Esperança nos jovens
Apesar dos sinais de desencanto e desapego político em parte da juventude, há sinais claros de esperança. Raquel Costa contou que em Coimbra, numa sessão de mediação literária, uma jovem colombiana recordou a importância de ler livros censurados, de conhecer a história dos direitos humanos e a ascensão do fascismo.
Comunicar de forma diferente
Como destaca Eduardo Albuquerque, nas atividades realizadas com escolas, é essencial adaptar a linguagem: abandonar o discurso académico e aproximar os temas históricos de conversas humanas e naturais. Utilizar meios digitais, criar atividades interativas, como puzzles e dramatizações, permite aos jovens vivenciarem conceitos complexos e envolvê-los.
Ao transformar temas como a censura ou liberdade em experiências, os jovens deixam de ver a história como uma sequência de datas distantes e começam a perceber como a história moldou de forma direta a sua vida.
Trazer a história para o presente
Pierre Marie sublinha outra dimensão importante: para muitos jovens, o 25 de Abril parece duplamente distante — no tempo e no espaço. A história da Revolução é muitas vezes vista como algo que aconteceu apenas em Lisboa, longe das suas realidades locais.
Por isso, iniciativas que mostram a influência do 25 de Abril nas comunidades locais, lembrando como bairros foram construídos, centros de saúde erguidos e associações fundadas no pós-revolução, tornam a memória mais presente. Mostrar que a liberdade conquistada permitiu melhorias reais no dia a dia das populações é essencial para que os jovens compreendam o valor da democracia.
A Memória do 25 de Abril e a Cultura Juvenil
Rui Bebiano começa por sublinhar que a falha de memória histórica entre os jovens não é exclusiva de Portugal – é um fenómeno global, visível em diferentes graus em vários países, como nos Estados Unidos, onde surgiu mais cedo.
Por isso, lembra que um dos grandes desafios atuais é o de garantir a continuidade do projeto democrático iniciado com o 25 de Abril. A transmissão de memória histórica é fundamental para fortalecer a democracia: é essencial que as novas gerações saibam de onde vêm os seus direitos e liberdades.
Contudo, Rui Bebiano aponta que, em grande parte, o sistema de ensino, as autoridades, os partidos políticos, os meios de comunicação social banalizaram a memória do 25 de Abril. O seu relato tornou-se repetitivo e vazio para muitos jovens. Para uma criança de oito ou nove anos, ou um jovem de vinte, ouvir dizer que “o 25 de Abril foi emocionante” pode não significar nada. A memória histórica precisa de ser articulada com realidades concretas da vida atual e não apenas celebrada em momentos festivos uma vez por ano.
Partilhando a sua experiência pessoal, Rui Bebiano recorda que tinha vinte anos no 25 de Abril e já militava politicamente em Coimbra, integrando um pequeno grupo da esquerda radical. Desde muito jovem, mesmo sem ter uma ideologia formada, sentia que algo estava errado no país. Recorda-se de olhar para a fotografia de Salazar na escola, ainda criança, e perceber, com inquietação, que aquele regime não era o que desejava para o futuro.
O ambiente de militância era minoritário: a maioria dos jovens, embora atentos, não era politicamente ativa. Muitos estavam integrados numa cultura juvenil emergente que valorizava a liberdade, a música, o prazer e o convívio, e que, naturalmente, se opunha ao regime e à guerra colonial. Este fenómeno cultural era global, surgido nos anos 60, e ajudou a formar uma nova consciência coletiva entre os jovens.
Rui Bebiano relembra que a cultura juvenil criou uma perceção mais lúdica e autónoma da juventude, distinta da visão tradicional que via o jovem como um “pequeno adulto”. Ao contrário da geração anterior, a juventude dos anos 60 e 70 começou a afirmar-se com identidade própria, mesmo fora dos movimentos políticos organizados.
O ex-diretor do Centro Documentação 25 de Abril reflete ainda que seria um erro tentar mobilizar as novas gerações dizendo que, antigamente, todos eram revolucionários ou grandes leitores. O envolvimento cívico e político de então foi, em grande parte, vivencial: surgia das experiências do dia a dia, da música que se ouvia, dos encontros nas repúblicas estudantis, dos debates informais e da oposição ao que se sentia ser uma injustiça.
Por fim, Bebiano ilustra a mudança cultural observada entre 1969 e 1974, visível até no aspeto dos estudantes: de uma imagem formal e contida para um visual libertário, de cabelos compridos e roupas informais, refletindo uma transformação mais profunda na consciência social e política da juventude portuguesa.
Celebração dos 50 anos do 25 de Abril: Memórias, Lutas e Futuro
Neste ano de 2025, celebramos meio século sobre o 25 de Abril — um momento de libertação, esperança e transformação para todo um país. Durante uma conversa emotiva, Rui Bebiano, Raquel Costa, Pierre Marie e Eduardo Albuquerque partilharam memórias, reflexões e apelos que nos lembram que a democracia é uma conquista diária.
Rui Bebiano trouxe-nos o relato do seu 25 de Abril, vivido na tropa. Lembra o espanto ao ver a população nas ruas a aplaudir soldados — ele próprio surpreendido, ainda sem saber que a revolução estava em curso.
Raquel Costa recordou o impacto da revolução nas mulheres portuguesas, sublinhando que o 25 de Abril abriu portas fundamentais, mas que o caminho pela igualdade de direitos tem sido longo e ainda hoje enfrenta desafios. Evocando histórias da sua família e do seu trabalho com o livro 25 Mulheres, reforçou que a liberdade é também responsabilidade, e que os direitos conquistados não são permanentes sem vigilância e a luta contínua.
Pierre Marie e Eduardo Albuquerque enfatizaram a importância da memória crítica — de questionar, de não aceitar tudo como verdade absoluta — e de manter viva a esperança, mesmo perante adversidades. Alertaram para os perigos da manipulação da história e da desinformação, especialmente num tempo onde a verdade pode ser distorcida nas redes sociais e nos media.
No encerramento, todos partilharam o mesmo apelo: valorizar a liberdade, não como algo garantido, mas como um bem precioso que exige diálogo, pensamento crítico, empatia e ação constante. Celebrar Abril é, hoje mais do que nunca, um compromisso com o futuro — um futuro construído com responsabilidade, memória e coragem.
Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril!
Nota: O texto da crónica foi construído a partir da transcrição da conversa, sujeito depois a ferramenta de inteligência artificial, e revisão final pela editora. Pode ouvir a mesa-redonda no ‘podcast’ do início da crónica.
PARTILHAR:
