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Pandemia aumentou mortes em casa em 23 países. Em Portugal tendência não se verificou

No nosso país morre-se mais nas instituições de saúde. Nos dois anos que durou a fase crítica de COVID-19, apenas aumentou o número de óbitos em casa dos doentes oncológicos

Um estudo recente indica que a percentagem de pessoas que morreram em casa aumentou em 23 países durante a pandemia da Covid-19, mas em Portugal a tendência não se verificou. O estudo surgiu no âmbito do projeto EOLinPLACE, da Universidade de Coimbra (UC), com o financiamento do Conselho Europeu de Investigação.

O projeto pretende desenvolver uma classificação internacional de locais de morte que seja comparável entre países, e perceber, com rigor, quais são os locais de morte mais frequentes. Dessa forma será possível planear recursos e saber se vão ao encontro das preferências dos doentes e das suas famílias.

Nos países analisados verificou-se um aumento da percentagem de mortes em casa de 30,1% em 2012/2013 para 30,9% em 2018/2019, e ainda para 32,2% na pandemia (2020/2021).

No entanto, em Portugal, a percentagem de morte no domicílio fugiu à tendência. Diminuiu de 27,4% em 2012/2013 para 24,9% em 2018/2019, e ainda para 23,2% na pandemia (2020/2021).

São vários os motivos que levam ao facto de haver menos mortes em Portugal em casa do que nos outros países

A equipa foi liderada por Bárbara Gomes, investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e por Sílvia Lopes, docente da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.

Em nota de imprensa, as investigadoras explicam que “o investimento que se tem verificado em cuidados paliativos domiciliários pode não ser suficiente para chegar de forma expressiva a todos os que deles necessitam”. Morrer nas instituições de saúde torna-se assim “inevitável”.

A existência de cuidados paliativos domiciliários, preferências pessoais, fatores culturais e expectativas que as pessoas têm relativamente aos cuidados prestados nos hospitais, contribuem também para condicionar a probabilidade de se morrer ou não em casa.

Sílvia Lopes, uma das responsáveis pelo estudo, afirma que a “boa política” deve ter em conta a preferência do local onde os doentes querem viver, mesmo que seja na fase terminal da sua doença.

Um das doenças que analisaram em maior detalhe foi a doença oncológica. Durante a pandemia, em Portugal, observou-se que a percentagem de mortes em casa aumentou para pessoas que faleceram com doença oncológica, ao contrário do que aconteceu com o conjunto de todas as causas de morte.

Segundo a docente, com este estudo fica evidente a importância de refletir sobre a forma de organização dos recursos do nosso sistema de saúde para proporcionar escolha, e assim tentar ir ao encontro do sítio onde as pessoas querem viver até ao fim da vida.

Segundo Sílvia Lopes, é necessário que se saiba que os hospitais não são vistos como o único local onde se pode ser tratado e que estas instituições têm que permitir uma escolha. A equipa responsável pelo estudo tem esperança que traga estas questões para cima da mesa, que suscite a reflexão necessária e que faça pensar sobre situação atual.

O estudo incluiu mais de 100 milhões de pessoas falecidas durante uma década em 32 países, enquanto em Portugal foram incluídos dados de 1 milhão de pessoas no mesmo período. Para a realização do estudo foram comparados dados dos locais de morte referentes aos primeiros anos da pandemia com dados dos oito anos anteriores à mesma.

A equipa responsável pelo estudo teve a ideia antes da pandemia da Covid-19, mas com o acontecimento acabou por se revelar importante saber qual tinha sido o efeito da pandemia no objeto de estudo.

Fotografia: Imagem de rawpixel no Freepik

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