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Coimbra acolhe programa cultural sobre desconstrução do racismo nas artes

Ciclo de programação pretende dar espaço e visibilidade às artes negras, trazendo a memória colonial e o racismo através de exposições, teatro, música, ações socioeducativas, literatura e debates.

Realizou-se no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) a sessão de apresentação do Ciclo Afro-Portugal 2022: Contas de Torna-Viagem. Com início marcado para 12 de outubro, a iniciativa é uma coprodução entre o TAGV, A Escola da Noite e o Centro de Estudos Sociais (CES).

Catarina Martins, curadora do ciclo e professora na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), explica que o ponto de partida surgiu no mote dado pelo músico e compositor, José Mário Branco com a canção “Canto dos Torna-Viagem”: a viajem das descobertas é a base do colonialismo português, um mito que ficou no “cerne da identidade portuguesa.” A investigadora afirma que a iniciativa procura levantar questões sobre o que José Mário Branco chama de “a pátria moratória”.

Catarina Martins diz que a programação se vai reger por duas linhas. Por um lado, pretende-se instigar o debate sobre a memoria colonial e a pátria. Por outro, discutir o racismo. A programação inclui ações de formação destinadas a estudantes do Ensino Superior e do Secundário, cujas inscrições já estão esgotadas.

A investigadora volta a mencionar a canção de José Mário Branco que evoca a necessidade de “olharmos a coisa ao contrário”. A obra musical, segundo Catarina Martins, interliga-se com o principal objetivo do projeto: mostrar a perspetiva dos colonizados.

Segundo a professora da FLUC, o caráter inovador do evento é a dimensão e a transdisciplinaridade da programação. Para Catarina Martins, o ciclo pretende contrariar a glorificação dos descobrimentos e do colonialismo, bem como a falta de reconhecimento de racismo em Portugal.

O artista guineense Marinho Pina, participante deste ciclo programático, sente a existência de uma “patologia social que resta” quando um povo é colonizado e que se observa na identidade, língua e imagem de um país. Entre risos, lembra que um homem em Angola apenas pode tirar uma foto para o documento de identificação com cabelo comprido se a sua profissão estiver relacionada com as artes.

O ciclo de programação vai decorrer entre os dias 12 e 22 de outubro e conta com cerca de 15 eventos, com mais de uma dezena de artistas, em múltiplos espaços. O programa pode ser consultado na página web do TAGV.

 

Imagem: TAGV

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