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30.05.2025POR Relatos RUC

Prognósticos Formação: Pedro Pereira e José Paiva traçam o futuro da formação da Académica/OAF

Em entrevista à RUC, Pedro Pereira e José Paiva analisam os desafios e as oportunidades de revitalizar a formação da Briosa, apostando na valorização e integração dos jovens talentos.

A formação da Associação Académica de Coimbra / OAF é, habitualmente, um tema central de discussão durante as campanhas eleitorais do clube. Muitos adeptos defendem uma aposta mais consistente e estratégica na formação de jovens jogadores, de forma a valorizar os produtos da “cantera academista”.

Neste contexto, a Rádio Universidade de Coimbra  recebeu Pedro Pereira, coordenador da formação da Académica/OAF, e José Paiva, treinador-adjunto da equipa de Sub-15 e coordenador do departamento de Performance, num episódio especial do Prognósticos inteiramente dedicado à análise dos desafios e oportunidades do departamento de formação da Académica.

Apesar das dificuldades enfrentadas, ambos os responsáveis destacaram o compromisso em revitalizar a formação da “Briosa” e criar condições para o desenvolvimento dos jovens atletas.

Percurso cruzado: Pedro Pereira e José Paiva testemunham a transformação da formação academista

Pedro Pereira e José Paiva partilham uma visão privilegiada sobre o impacto do tempo e das dificuldades financeiras na formação da Académica, fruto das suas idas e vindas pelo clube em diferentes momentos. Ambos deixaram a Briosa, regressaram mais tarde e observaram, em épocas diferentes, o desgaste gradual das infraestruturas e o impacto das descidas de divisão na qualidade do trabalho formativo. Para Pedro Pereira, atual coordenador da formação da Académica, o regresso ao clube marca uma segunda etapa na sua ligação à Briosa, depois de ter estagiado em 2010/2011.

Na altura, encontrou uma estrutura em ascensão, com uma academia moderna e recursos sólidos, num contexto desportivo fortalecido pelas presenças na Primeira Liga, conquistas como a Taça de Portugal e uma participação na Liga Europa. No entanto, quinze anos depois, o cenário é outro. As descidas de divisão e as dificuldades financeiras do clube deixaram marcas evidentes nas infraestruturas e no trabalho da formação, obrigando à procura constante de soluções para enfrentar a nova realidade.

A Academia do Bolão já viu melhores dias

Já José Paiva viveu o desgaste de forma mais recente, ao longo dos anos em que esteve ligado ao clube como treinador. Após uma breve passagem pelo Marítimo na época 2022/2023, onde integrou a equipa técnica dos Sub-17, José Paiva regressou à Académica para dar continuidade à sua carreira de treinador, que tem sido quase exclusivamente construída ao serviço da Briosa.

De regresso ao clube, José Paiva sente que houve um esforço para melhorar as condições de trabalho, especialmente no último ano e meio. Como exemplo, referiu as pinturas efectuadas no Bolão e a aquisição de material essencial para o trabalho de campo. Embora reconheça este progresso, José Paiva salientou que ainda há muito a fazer, nomeadamente na introdução de recursos tecnológicos, como os sistemas GPS, que continuam ausentes, inclusive na equipa sénior. Ainda assim, o técnico admitiu: “Tendo em conta o nosso contexto, temos de avançar devagarinho”, num claro sinal da importância do investimento financeiro na formação.

Competitividade no Futebol de 11 e Futebol de 7 apesar das dificuldades

No plano desportivo, os Sub-17 garantiram a permanência no Campeonato Nacional, enquanto os Sub-19 mostraram um bom nível de competitividade, embora a subida de divisão continue a ser um objetivo por concretizar. Pedro Pereira destacou o esforço da equipa técnica e dos jogadores numa fase final disputada contra adversários fortes, como o Estoril e o Alverca, clubes que dispõem de maior capacidade económica. Como explicou Pedro Pereira, este factor influencia diretamente o trabalho desenvolvido na formação de cada clube, uma vez que afecta a capacidade de atrair jogadores, treinadores e proporcionar melhores condições de trabalho.

José Paiva conta com uma passagem nos sub 17 do Marítimo, clube que atualmente milita na Segunda Liga

No futebol de 7, dedicado aos escalões mais jovens, José Paiva recordou o impacto da concorrência das academias de grandes clubes como Sporting, Benfica e Braga, que já têm escolas instaladas na região — uma realidade bastante diferente da que existia há dez anos. “Estas escolas conseguem atrair atletas de formas que, neste momento, não conseguimos igualar“, afirmou. Ainda assim, José Paiva sublinhou que a Académica continua a ser uma referência na formação a nível regional, contando com treinadores e métodos reconhecidos a nível nacional.

Os “clubes grandes” sempre captaram talentos, como aconteceu anteriormente com Edgar Marcelino ou David Caiado, que saíram diretamente da formação da Académica para o Sportng. No entanto, esta realidade tornou-se ainda mais facilitada com a existência de centros de treinos regionais destes clubes, permitindo-lhes atrair jovens promessas de forma mais eficaz e próxima.

Ao mesmo tempo, Pedro Pereira reconhece que a desertificação do interior limita a capacidade de recrutamento de talentos na região. Neste sentido, considera que a Académica, bem como os restantes clubes de Coimbra, está em desvantagem devido ao isolamento da cidade face aos principais centros urbanos, os quais concentram maior competitividade e recursos.

Pedro Pereira deu como exemplo o Barreirense, um clube com menos tradição a nível sénior, mas que consegue rivalizar na formação. Explicou que estas comparações são feitas entre realidades distintas: “A Margem Sul tem uma densidade populacional muito superior à do distrito de Coimbra, o que naturalmente aumenta a competitividade na formação.”

Pedro Pereira é o coordenador da formação desde 2024.

Apesar destas dificuldades, Pedro Pereira acredita que é fundamental combater estas limitações, reinventando-se e tirando o máximo partido dos recursos disponíveis. “É preciso lutar com as armas que temos, fazer diferente e melhor, dentro das nossas capacidades e possibilidades.”

O Desafio da Transição para os Seniores

Um dos tópicos centrais da discussão foi a dificuldade em integrar jogadores da formação na equipa sénior, actualmente a competir na Liga 3. Pedro Pereira afirmou que o salto entre os escalões jovens e o futebol sénior é exigente e nem sempre compatível com as especificidades da terceira divisão. “Os jogadores têm perfis que muitas vezes não estão alinhados com as exigências físicas e competitivas deste escalão” [Liga 3].

José Paiva reforçou que a ausência de equipas sub-23 ou de um plantel B no clube torna o salto ainda mais complicado, muitas vezes obrigando os atletas a queimar etapas no seu crescimento. “Nos grandes clubes, há transições graduais; na Académica, o salto é maior”, concluiu. José Paiva Paiva referiu ainda o caso de Miguel Galeano, um dos talentos mais promissores que se estreou na Liga 3 ainda como sub-17, mas que acabou por deixar o clube devido à incapacidade de reter o jogador face ao interesse de clubes com maior capacidade financeira (o Famalicão).

Galeano jogou na Liga 3 e acabou por sair para o “poderoso” Famalicão

Propostas e Passos para o Futuro

Apesar do contexto desafiante, ambos destacaram avanços recentes, como a estreia de Afonso Moço pela equipa principal na Taça de Portugal e a integração de jovens nos treinos dos seniores. “Acreditamos que com os recursos disponíveis podemos continuar a preparar jogadores com qualidade para o futuro“, concluiu Pedro Pereira.

Afonso Moço teve minutos esta temporada 

José Paiva, natural de Coimbra, construiu a sua carreira quase exclusivamente ao serviço da Académica, com uma breve passagem pelo Marítimo nos Sub-17. Já Pedro Pereira passou pelo SC Ribeirense e pela Academia Fut. N10, antes de assumir a coordenação da formação da Briosa.

A entrevista completa está disponível no podcast Prognósticos.

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