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Memória e tradição estudantil mantêm-se vivas na Secção de Jornalismo

Joana Carvalho, da Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra (SJ/AAC), destacou o papel do arquivo na preservação da memória estudantil. A Secção mantém edições antigas da revista Via Latina e registos da repressão durante o Estado Novo. A seccionista alerta para o afastamento atual dos jovens da política e para a crise democrática.

Joana Carvalho, membro da SJ/AAC, destacou a importância histórica do órgão de comunicação, que completou 40 anos em 2023. A Secção dedica-se atualmente à produção do Jornal Universitário de Coimbra – A Cabra, e ao Arquivo da Secção de Jornalismo, que preserva e divulga o espólio acumulado ao longo das décadas.

Durante a entrevista, Joana Carvalho explicou que o arquivo contém edições valiosas da revista Via Latina, com destaque para os anos 50, 60 e o pós-25 de Abril. A edição de 1977, por exemplo, refletia um espírito reivindicativo, que traduz as promessas da revolução e a vontade de transformação da juventude da época.

A seccionista aborda ainda a “Carta de uma Jovem Portuguesa”, publicada em 1961, que criticava a visão submissa da mulher na sociedade. O texto gerou grande controvérsia e revelou uma corrente de pensamento mais progressista entre estudantes, que antecipa os debates sobre emancipação feminina que se fortaleceriam depois de 1974.

Joana Carvalho destacou que a Academia Coimbrã vivia, então, uma “vida dupla”: de um lado, respeitava as normas do regime, de outro, alimentava atividades clandestinas ligadas à resistência política. Essa tensão colapsou com as crises de 1962 e 1969, que marcou o compromisso crescente dos estudantes com a democracia.

As repúblicas estudantis, segundo a academista, foram espaços centrais de resistência, onde se redigiam decretos e se abrigavam perseguidos políticos. A entrevistada partilhou ainda histórias da Real República Bota-Abaixo, que emitiu manifestos de solidariedade e chegou a esconder ativistas em fuga, o que revelou o papel ativo dessas casas na luta contra a ditadura.

Joana Carvalho refletiu ainda sobre os tempos atuais, onde observa uma crescente desilusão face à política. Para a seccionista, é essencial repensar a forma como se faz democracia e recuperar a proximidade entre cidadãos e decisores. A estudante de letras, acredita que a memória estudantil pode ser um exemplo e uma inspiração para a participação cívica de hoje.

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