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Clara Cruz Santos: “É importante apresentar uma outra alternativa de esquerda ao concelho de Coimbra”

Ensino superior, SNS e sustentabilidade foram temas de destaque na entrevista à candidata do Livre. Clara Cruz Santos afirma que Livre “é um partido focado em repostas”.

No passado dia 14 de fevereiro, foi recebido mais um dos partidos candidatos  pelo círculo de Coimbra às eleições legislativas do próximo dia 10 de março. Clara Cruz Santos, cabeça-de-lista do partido Livre no distrito, foi a candidata a dar entrevista à RUC na passada quarta-feira.

“Tendo em conta a realidade de Coimbra, é importante fortalecer o Livre na cidade e apresentar uma outra alternativa de esquerda ao concelho de Coimbra, com propostas diferenciadas e mais sustentáveis”

Clara Cruz Santos revela que o Livre tem como ambição o aumento do grupo parlamentar na Assembleia da República e enumera algumas das propostas do partido. A semana de trabalho de 4 dias, a interrupção voluntária da gravidez, as diminuição do custo do passe ferroviário, a solidariedade internacional, a independência da Palestina, e uma posição relativamente à sustentabilidade financeira e ambiental são temas importantes para a candidata.

“O Livre terá como prioridade a harmonia laboral e social e o reforço de áreas tão estruturais como a saúde e a educação, essenciais para o foco na construção de soluções do futuro”

Sendo esta uma citação do programa eleitoral disponibilizado no site do Livre, a candidata explica que as prioridades do partido nos próximos quatro anos assentam no bem estar, qualidade de vida e dignidade do ser humano (focando-se na sua capacidade de realização), no combate à precariedade e pobreza, na defesa de uma vida sustentável e justa, no reforço da reconciliação entre o trabalho, o bem estar e a saúde mental, bem como na promoção das questões ambientais.

“A alta velocidade é fundamental para que seja possível unir rapidamente as grandes metrópoles entre si”

A promoção do desenvolvimento regional foi um dos temas discutidos durante a entrevista. A cabeça de lista defende que a “coesão social implica sempre coesão territorial”. Como tal, a coesão territorial engloba também questões de mobilidade, que deve ser “segura, livre e ter em conta as características ecológicas ambientais das diferentes regiões”. Por ser um país pequeno, Clara Cruz Santos defende a importância de haver uma ligação rápida entre as diferentes regiões. Após criticar a situação da Linha da Beira Alta, acrescenta que os autocarros para substituir o transporte ferroviário não suprem as necessidades dos habitantes, sendo uma das possíveis soluções a criação de uma linha de alta velocidade.

“Coimbra teve um aumento de 47% nos valores de arrendamento e de 100% nos valores de venda de casa. A cidade está com valores completamente insuportáveis quer para famílias quer para os estudantes”

O tema do preço da habitação estudantil tem sido amplamente falado nos últimos tempos, nomeadamente pelos estudantes de Coimbra. A representante aponta para as questões de precariedade e pobreza inerentes a este problema e explica que o tempo é o principal fator inimigo da mudança. Para Clara Cruz Santos, a solução não está na construção de novos edifícios, mas na restauração de imóveis que estejam devolutos. Aponta a importância do apoio do Setor Cooperativo, com o qual o Livre esteve reunido, tendo oportunidade de identificar que um dos problemas na remodelação de imóveis é o tempo despendido no tratamento de burocracia. O anulamento dessa etapa seria fundamental para a aceleração  de soluções, alega a responsável.

Outra das propostas do partido passa pela melhoria das condições das repúblicas estudantis, já que são “parte do património de Coimbra e da sua função social”, argumenta a candidata. 

Ainda na linha de pensamento do ensino superior, Clara Cruz Santos expõe a importância da redução do valor das propinas de forma gradual, até chegar à sua anulação. Com esta medida, o choque no investimento para o ensino superior, presente no orçamento de Estado, seria evitado, explica.

“O não cumprimento das as obrigações com a qual a FCT se comprometeu, aumenta a perda de confiança que os cidadãos vão tendo com as instituições públicas representantes do Estado”

Numa altura em que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) apresenta atrasos na entrega de bolsas aos investigadores, Clara Cruz Santos defende que existe um subfinanciamento por parte das instituições do ensino superior, derivado do baixo orçamento de Estado para estas instituições.

Além disso, a cabeça de lista refere alguns erros cometidos pela FCT, nomeadamente os contratos de programas que são estabelecidos  com a fundação e que não são cumpridos eficaz e atempadamente. O não cumprimento dos programas tem um impacto direto na vida dos bolseiros, que dependem delas para viver. A descredibilização dos cidadãos relativamente às instituições públicas, leva o Livre a propor uma revisão total da fundação.

“O SNS é um baluarte importante da democracia”

O partido admite que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) não tem mostrado valores satisfatórios em algumas situações. No entanto, Clara Cruz Santos defende que o SNS é um “baluarte importante da democracia” e acredita que é possível recuperá-lo. Com as receitas da saúde privada a aumentar, a candidata afirma que todos os cidadãos têm o direito de ter acesso a um bom sistema de saúde, sem ser necessário criar divisões na sociedade.

Ao nível da saúde em Coimbra, o Livre apoia um modelo de unidades de saúde descentralizado, com um serviço de urgências mais próximo do cidadão. No entanto, reconhece que esta medida vai sobrecarregar as unidades hospitalares e que deve, por isso, ser considerada a longo prazo. Quanto à construção da nova maternidade na cidade, a cabeça de lista levanta algumas questões, nomeadamente aquilo que vai realmente mudar, caso se proceda à construção da unidade de saúde, e destaca que o mais importante é que seja assegurada a saúde e dignidade das mães e bebés.

O tema da saúde mental também foi abordado durante a entrevista. Clara Cruz Santos apresenta propostas de iniciação de projetos de saúde mental comunitária e relembra a necessidade de criar medidas de prevenção para os problemas. A proposta dos 4 dias de trabalho pode evitar, segundo a responsável, o burnout da população e contribuir para uma melhor saúde mental, assim como o trabalho de equipas multidisciplinares nos sistemas de educação. 

“Se das eleições vier uma maioria de direita, estamos aqui para ser oposição; se vier uma maioria de esquerda, estamos aqui para fazer parte da solução”

Pensar nos partidos políticos só como defensores de uma ideologia de direita ou esquerda é “altamente redutor”, na opinião da representante. Clara Cruz Santos explica que os partidos de esquerda e direita vão-se moldando e tentam  dar resposta às necessidades crescentes da sociedade, por isso, manter um pensamento rígido não vai contribuir para o desenvolvimento do país.

Para ouvir a entrevista completa pode aceder ao link acima ou ao Spotify da RUC.

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