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02.02.2024POR Isabel Simões

A crise global do jornalismo há muito que afeta o jornalismo local

A precariedade que atravessa a profissão começou a sentir-se há muito nos órgãos locais e regionais. No entanto, há quem tenha conseguido levantar-se do chão e feito caminho, como o Sul Informação

Ainda assim “há exceções”, referiu Paulo Barriga, jornalista que apresentou no painel “Do Local ao universal”, o périplo nacional que a Comissão Organizadora do 5.º Congresso dos Jornalistas realizou no país. O grande encontro do jornalismo decorreu no Cinema São Jorge, em Lisboa, de 18 a 21 de janeiro.

No terceiro dia do congresso (20), a Sala Manoel de Oliveira não encheu para ouvir falar de jornalismo local e regional, a que muitos chamam proximidade. Isso mesmo referiu Paulo Barriga, jornalista que pertence ao Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas e à Comissão Organizadora do 5.º Congresso.

O périplo que a Comissão Organizadora fez pelo país, desde abril de 2023, permitiu trazer ao Cinema São Jorge, no dia 20 de janeiro de 2024, as principais dificuldades e preocupações de quem pertence a um órgão local e regional.

“As grandes questões do jornalismo têm a ver com dignidade e solidariedade”, afirmou Paulo Barriga.

“Uma certa vampirização”, pelos órgãos nacionais, dos assuntos que saem em primeira mão nos órgãos de comunicação locais, foi outra das dificuldades detetadas pela comissão organizadora. Assuntos são “dados como se fossem em primeira mão”, por televisões e rádios nacionais, sem que seja feita a devida citação, lamentou o jornalista.

Segundo Paulo Barriga “a crise do jornalismo é global” e há muito que começou nos jornais e rádios locais. Apesar da crise, declarou que há exceções, exemplos “belíssimos” de como se pode formar equipas e financiar um órgão de comunicação social local.

O jornalista chamou a atenção para outro fenómeno que passa ao lado dos grandes centros. No interior do país, “há patos-bravos” que estão a criar páginas de Facebook e blogues e a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) está a aceitá-los como órgãos de comunicação social.

Com isto, a publicidade “está a ser completamente lapidada”, pois as páginas da ‘internet’ pedem valores quase irrisórios sem que tenham os custos associados a um meio de comunicação social. Limitam-se a copiar notícias dos órgãos de proximidade sem haver “escrutínio” de entidades que o poderiam fazer, lamentou o jornalista.

Outro dos fenómenos identificados no périplo foi “a concorrência das autarquias locais”. Nas ilhas a questão coloca-se mais a nível “dos governos regionais”, esclarece Paulo Barriga. Órgãos do poder local ou regional “fazem redações gigantescas nos seus gabinetes de comunicação” e esgotam a possibilidade de as notícias serem mediadas pelos jornalistas daqueles sítios.

O uso do trabalho dos jornalistas por funcionários das autarquias foi outra das preocupações deixada pelo jornalista.

A formação dos jornalistas que trabalham a proximidade foi mencionada pelo elemento do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas como necessária para melhorar as condições de trabalho dos colegas que fazem informação local e regional. Nesse sentido, deixou um apelo ao novo diretor do CENJOR.

No congresso foi discutida a possibilidade de os serviços da Agência Lusa poderem ser gratuitos para as empresas de comunicação e de jornalismo que estão fora dos grandes centros. Paulo Barriga analisou a questão, teceu considerações e fez novas propostas.

O momento que se seguiu trouxe “histórias de vida”. Ouvimos testesmunhos de Sandra Reis, diretora d’ O Baluarte de Santa Maria nos Açores e Filipa Queiroz, cofundadora e diretora da revista digital Coimbra Coolectiva.

Pode ouvir a conversa da RUC com Elizabete Rodrigues, diretora do Sul Informação no ‘podcast’ do início do artigo.

Fonte do som e imagem: Sessão 5 do Congresso dos Jornalistas: Do local ao universal

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