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17.01.2024POR Isabel Simões

Coimbra convoca instituições para promover Noite mais Saudável

Entidades presentes na conversa “Recreação Noturna em Coimbra” expressam necessidade de criar um Conselho Noite Saudável na cidade, visando minimizar danos do consumo excessivo de álcool e policonsumo de drogas

A noite no país é caracterizada pelo consumo de álcool, muitas vezes “excessivo”. Coimbra não é exceção. Muitos frequentadores da noite associam ao álcool várias substâncias psicoactivas. Cada vez há mais drogas diferentes e nem sempre o policonsumo é informado, o que cria episódios difíceis de resolver, até pelos profissionais de saúde.

Para melhorar a saúde e o bem-estar de quem frequenta a noite na cidade, a Associação Existências promoveu uma conversa sobre a “Recreação Noturna em Coimbra”. Aconteceu no Café Moçambique, na última segunda-feira, dia 15.

Andreia Nisa da BeSafe trouxe as boas práticas de Viseu, Rosário Mendes da IREFREA Portugal realçou a importância da formação das pessoas que trabalham na noite.

Joana Canedo, do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT), levou a experiência como ativista, Paula Carriço do Centro de Respostas Integradas da ex-ARS Centro, alertou para o risco do consumo desinformado. João Gouveia, proprietário de espaço noturno, apresentou sugestões para mudar a noite.

Paulo Anjos e Maria Lobo da Associação Existências caracterizaram a noite de Coimbra.Ana Cortez Vaz, vereadora da área social da Câmara Municipal de Coimbra, prometeu continuar a conversar sobre a temática da Noite Saudável para encontrar e coordenar respostas.

Paulo Anjos, coordenador da Associação Existências, falou com a RUC no final. “Sensibilizar agentes da noite e agentes políticos” para a problemática, foi um dos objetivos da sessão.

A instituição lembrou resultados de um inquérito que realizou para caracterizar a noite da cidade. Responderam 200 pessoas, a maioria mulheres. Grande parte das respostas caiu na faixa etária entre 18 e  27 anos. Maioria das pessoas participantes são estudantes do ensino superior ou licenciadas.

Como é a noite de Coimbra?

Oitenta por cento do universo das respostas sai com “alguma regularidade à noite”. Trinta por cento fazem-no “ocasionalmente”, 8,5% mais vezes por semana. Sexta e sábado são os dias em que as pessoas dizem sair mais, sendo a quinta-feira também assinalada para sair.

Que locais frequentam e como se deslocam?

As pessoas ficam quatro a seis horas na noite, sendo os locais mais frequentados os cafés, bares e casas de amigos. Restaurantes, espaços culturais, concertos, ‘raves’ e festas privadas são também mencionados como locais frequentados na noite. O carro é o meio de transporte mais utilizado (30%).

O que consomem?

Quarenta por cento das pessoas refere consumir mais de cinco unidades de bebidas numa saída. Cerveja é a bebida mais consumida. Cidra, vinho e shots são também mencionados. Cerca de 32,5 por cento refere consumo de outras substâncias, informa Maria Lobo, psicóloga na Associação Existências.

“Para estarem com amigos para se divertirem” é a razão principal para as saídas. Como motivos para o consumo de substâncias são sobretudo a “diversão”. “Para relaxar, para estar mais à vontade com os amigos, para fugir à realidade, para se sentirem melhor ou para estimular os sentidos”, são também apontados como razões para os consumos.

Cerca de 27,5 por cento refere já ter sofrido algum tipo de violência, sobretudo física na noite de Coimbra. Com percentagens menores, alguns frequentadores da noite já sofreram violência emocional, de género e sexual.

Problemas apontados pelos frequentadores da noite

A falta de qualidade dos espaços, falta de transportes públicos e perceção de insegurança foram apontados como alguns dos problemas da noite de Coimbra. Maria Lobo refere outros problemas associados aos vários consumos e à violência.

O que falta na cidade para minimizar riscos?

Joana Canedo, ativista em “reformar políticas de drogas, redução de danos e políticas públicas” trouxe exemplos de outras cidades.

Insistiu na necessidade de existência de ‘Drop-in Center’, como há em Viseu e em Lisboa, locais com disponibilização de materiais de redução de riscos. Aí existe ajuda aos consumidores para verificar a qualidade da droga a consumir. Nesse ambiente controlado podem ser encaminhados, caso queiram, para tratamento de problemas de saúde física e mental causados pelo uso dessas substâncias.

A ativista fala da necessidade dos consumidores de drogas recreativas, frequentadores dos diversos tipos de festas, terem acesso aos materiais de redução de riscos.

Uma das coisas de que Joana Canedo se apercebeu ao longo dos últimos anos foi que acontecendo qualquer episódio de emergência, fosse por uso de álcool ou de natureza psicadélica, em Coimbra “as pessoas não sabiam a quem recorrer”. Daí a necessidade de existirem nos locais de recreação gente que saiba resolver algumas situações.

Joana Canedo deu ainda o exemplo de Amesterdão, cidade que criou espaços de sossego para os frequentadores da noite.

A importância de incluir associações juvenis na discussão 

A inclusão  de interlocutores como a Associação Académica de Coimbra, as Repúblicas da cidade, da RUC e de promotores de outras atividades culturais foi considerada fundamental pela ativista na discussão das problemáticas sentidas pelos jovens na noite.

A formação dos trabalhadores dos espaços noturnos e dos seguranças para saberem reagir de forma adequada a um episódio de emergência foi mencionada por vários intervenientes na conversa.

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