Ciclo de exposições “Cuidar de um país” inaugurou “Todos os tempos se cruzarão” na Sala da Cidade
Ciclo pretende debater arte e a arquitetura e a forma como podem contribuir para a identidade dos territórios. “Um território onde não há um centro e uma periferia, mas onde há, sim, vários centros que têm relações urbanas com os seus cidadãos”, palavras de Désirée Pedro, da direção do CAPC na inauguração da mostra
O país foi perdendo população ao longo das últimas três décadas. Ao mesmo tempo as populações concentram-se em áreas metropolitanas, não no centro, mas em cidades das suas periferias. Perante a situação, os promotores da mostra consideraram “urgente” procurar intervenções trabalhadas a partir do interior do país que demonstram a possibilidade de contrariar a corrente da desertificação.
Do Minho até aos Açores, elas existem e algumas fazem parte da primeira exposição do ciclo “Cuidar de um país” presente na Sala da Cidade, em Coimbra.
O ciclo resultou da proposta do Atelier do Corvo para a representação de Portugal na 18.ª Bienal de Arquitetura de Veneza. A candidatura ficou em segundo lugar e por isso não chegou à cidade italiana.
A partir da proposta para Veneza, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC) e instituições parceiras da Universidade de Coimbra (UC) construiram uma exposição cuja narrativa pretende olhar o país como um todo. A mostra identificou exemplos “que reforçam a identidade dos territórios permitindo a fixação das populações” explica o diretor do CAPC, Carlos Antunes.
Oito exemplos diferentes de arquitetos e de um coletivo “recorrem a estratégias de cuidado, numa escala de proximidade“, adianta a folha de sala da exposição. Bartolomeu Costa Cabral, arquiteto nonagenário com a “Casa da Taipa em Beja” deu a cor aos objetos expositivos. A Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior (UBI), do mesmo arquiteto, impõe-se ao olhar na cidade da Covilhã, uma cidade que não ficou presa no tempo. Já a proposta da arquiteta Maria Manuela Oliveira transformou o Largo do Toral em Guimarães e trouxe gente a uma zona antes degradada.
“Todos os tempos se cruzarão”, mostra organizada pelo CAPC, tem na Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e na Universidade de Coimbra (UC) parceiros preferenciais. José António Bandeirinha, professor no Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, realça a importância de chamar a atenção para as “boas práticas”.
António Belém Lima, a partir de Vila Real, com a intervenção na Associação Bairro Alagoas em Peso da Régua, proporciona convívio entre comunidades de costas voltadas. Já a Capela de Netos na Figueira da Foz de Pedro Maurício Borges faz-se ver da estrada.
Centro de Estudos Sociais (CES) e Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) também estão na parceria. José Reis, professor catedrático na FEUC, escreveu o livro “Cuidar de Portugal: Hipóteses de Economia Política em tempos convulsos”. O título foi mote para o nome do ciclo, iniciado ontem, quarta-feira.
À comunicação social explica que o interior “tem urbanidades notáveis”, quer em cidades, quer em aldeias.
A presença do Colectivo ZAZ formado por artistas ligados à comunidade estudantil do DARQ é evidenciada em vídeo com as intervenções nas Escadas Monumentais e nas paragens de autocarros da cidade de Coimbra sem condições de conforto para acolher utentes. O pequeno museu de Francisco Tropa, criado na anozero’15, pode causar estranheza mas
Em 2025 vai ser inaugurada a segunda exposição. Até ao próximo ano serão agendadas conferências e palestras para debater como a arte e a arquitetura podem contribuir para a identidade dos territórios.
O presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, deixa desejo relativamente ao artigo 82 do Plano Diretor Municipal.
“Todos os tempos se cruzarão” vai estar patente até ao dia 2 de março. A mostra inaugurada na última quarta-feira, dia 9, pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 13h00 às 18h00. Sábado, dia 13 de janeiro, arquitetos e artistas cujas obras estão patentes na Sala da Cidade marcam presença com uma conversa e uma visita guiada. Nesse mesmo dia, pelas 18h00, haverá lançamento do livro “Margens Convergentes” com José António Bandeirinha.
Com a exposição “Todos os tempos se cruzarão” é já a Anozero’24 Bienal de Coimbra que começa a desenhar-se. “O Fantasma da Liberdade” foi o tema escolhido para os desafios que vai colocar de 6 de abril a 30 de junho.
Fotografia: CMC