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30º Vodafone Paredes de Coura – Entrevista com Kokoroko

No último dia da celebração do Vodafone Paredes de Coura, a RUC esteve à conversa com os Kokoroko, supergrupo de jazz londrino que veio tirar as nuvens do caminho. Ayo Salawu (bateria), Tobi Adenaike (guitarra) e Duane Atherley (baixo) falam um pouco sobre cultura, inspirações em sítios e escolhas artísticas do seu mais recente LP “Could We Be More”.

Obrigada por nos receberem. Este é um projeto que conta com oito integrantes, diretos da efervescente cena jazz de Londres, que vão abrir o palco principal de hoje às 19h20. Tendo em conta toda a experiência que proporcionam nos concertos, quais são as expectativas que têm para este concerto neste local rodeado por natureza e por um anfiteatro natural?

AYO – “Acho que faz imenso sentido quando tocamos neste tipo de ambientes porque, mesmo que venhamos de uma região um pouco cinzenta, como Londres, a música traz muito sol e natureza, traz calor aos sentimentos. Então sim, sentimos que combina muito bem com a ambiência.”

 

Seria possível ter o som dos Kokoroko sem a vossa herança cultural e a sua relação com a cidade de Londres?

TOBI – “Acho que não seria possível. Acredito que a música é o que se traz para a mesma. Inclui a experiência de vida, a cultura, quem tu és. E é isso que molda o som da música.. Então, acho que desde que seja fiel e honesto com quem tu és como pessoa, isso vai se manifestar na música de qualquer forma. Então, não acho que seja possível replicar de forma fiel e autêntica o som de uma pessoa, somos todos diferentes.”

 

A vossa linguagem musical também se inspira bastante na vida noturna e da narrativa que apresentam num concerto. Veem isto como uma espécie de história sobre as vivências em Londres?

AYO – “Acho que está relacionado com isso, sim. Se passares algum tempo em Londres, vais descobrir o quão diversificada a cidade é, especialmente com culturas africanas e caribenhas. E isto é muito visível na cidade. Sinto que, de certa forma, está contando a história de Londres por causa de todos estes elementos que se ouvem e mostram. Mas não é uma coisa em específico. O que fazemos é fortemente influenciado pela África Ocidental, com highlife e afrobeat. Mas não nos consideramos um projeto desses (géneros musicais), porque a forma como tocamos parte da mistura que fazemos com jazz, soul, gospel e funk. Ou seja, muita música que nós ouvimos ao crescer em Londres e outras partes do Reino Unido, ou apenas de outras partes do mundo. É como trazer todos esses sons juntos. Por causa dos diferentes elementos presentes na música, sinto que faz sentido dizer que oferece uma visão de Londres, porque Londres realmente tem essa ampla gama de influências na música que se ouve.”

 

Em 2022, lançaram o vosso álbum de estreia. “Could We Be More’‘. Podem contar-nos um pouco sobre o que esteve por detrás deste título e porque escolheram que fosse uma pergunta? Procuravam uma resposta quando criaram o álbum? Ou foi algo que surgiu naturalmente?

DUANE –“Acho que o título do álbum não é tanto uma pergunta dirigida a alguém em específico, mas mais como uma afirmação ou pergunta a nós próprios. Estava a ser um bom ano, com belíssimos concertos e tudo bem planeado, mas depois veio o lockdown. Então estávamos todos quase que, na altura, em retrospectiva, a olhar para dentro e a questionar tudo. Porque toda a gente teve de acalmar e pôr em pausa o que estavam a fazer. Então acho que isso deu espaço para apenas estarmos calmos e refletir. E acho que todos no grupo estavam a compor, mas também a passar por esse processo retrospectivo. E não era só sobre música, mas também sobre a vida, em que ponto é que estão na vida, onde estamos juntos como banda, o que queremos fazer, para onde queremos ir? Então, “Could We Be More” foi mais do género, poderíamos ser mais musicalmente, poderíamos ser mais unidos como comunidade, como banda, como sociedade? Foi uma pergunta geral sobre a vida.”

 

A capa deste álbum tem um fundo azul, lembrando um céu tranquilo.No seguimento desta aparência calma, tem ainda uma pomba no centro, rodeada por quatro mãos. As mãos são inspiradas em algum dos membros da banda? Como surgiu esta ideia neste processo de criação?

TOBI – “Com a arte, acho que tentamos não pensar demasiado no significado, mas fomos mais pelo sentimento de como a arte nos faz sentir. E sentimos que isso era adequado e apropriado para o álbum e o título do álbum também. Sim, e trabalhamos com o…”

DUANE – “Acho que o nome do designer é Yours Truly Poetic. Acho que alguns membros da banda o conhecem pessoalmente. Assim, nós partilhámos algumas ideias e a partir daí seguiu-se com o processo, que foi expandindo até se chegar ao resultado que  temos hoje para a capa do álbum.”

 

Alguns dos títulos dos vossos temas estão escritos em Yoruba, uma língua nigeriana. Por exemplo, “Ewa Inu”, que significa “Beleza Interior” ou “Didi O”, que significa “Levante-se”. Optam por esta abordagem como uma forma de ajudar a realizar o vosso desejo de homenagear as vossas origens e cultura? Para contribuir para uma maior representação da música da África Ocidental?

AYO – “Sim, sinto exatamente que é isso que disseste primeiramente, em termos de respeito para com as nossas culturas. Obviamente não somos todos da Nigéria, diria que talvez três de nós têm alguma ligação com a Nigéria. Mas, depois, também há pessoas que são de outras partes da África Ocidental, outras das Caraíbas. Então acaba por ser uma grande mistura. Mas Kokoroko é uma palavra de uma linguagem Nigeriana, chamada Yoruba. Então, achamos que faz sentido usar em algumas músicas, especialmente para músicas como a “Ewà Inú”, que eu compus e que foi inspirada na minha infância, passada na Nigéria, e num ritmo específico que eu ouvia bastante ao crescer. Por isso, acho que apenas faria sentido usar mesmo um nome em Yoruba. E sim, é maioritariamente uma forma de prestar homenagem a todos os heróis que vieram antes de nós e à nossa herança.”

 

Como tem sido a apresentação de “Could We Be More” ao vivo? Qual é a reação do público ao vosso álbum de estreia e aos concertos?

TOBI – “A adesão tem sido muito positiva. Temos adorado tocar para o público e ver o entusiasmo na cara das pessoas quando começamos a tocar as suas músicas preferidas. Tem sido muito bom, muito gratificante. E sim, agradecemos todo o amor que temos recebido.”

 

Durante o processo criativo ou durante a parte da produção, é complicado trabalhar com todos os membros do projeto, ou as vossas ideias fluem bem como um todo?

DUANE- “Acaba por não existir um tamanho que sirva a todos, por assim dizer. Em alguns temas, juntamo-nos e damos a nossa opinião, e ajudamos a expandir e desenvolver a música. Outras vezes, vais só e começas a criar coisas no local. Por isso, não é difícil, por assim dizer. É só tentar encontrar o que faz sentido para a música e deixar fluir.”

AYO – “E acho que ajuda todos termos … Apesar de todos termos os nossos gostos que levamos para cada tema, sinto que todos temos… que estamos todos na mesma página no que toca ao que a música precisa, no espaço que precisa e outras coisas, a criatividade… Por isso não é complicado quando é assim.”

 

Todas as entrevistas realizadas no âmbito da cobertura do 30º Vodafone Paredes de Coura feita pela Rádio Universidade de Coimbra estão disponíveis no nosso serviço de podcasts, em Coberturas RUC.

Fotografia: Maria Nolasco

 

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