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30º Vodafone Paredes de Coura – Entrevista com THUS LOVE

No dia 18 de agosto do 30º Vodafone Paredes de Coura, Miguel Duarte e Maria Nolasco conversam com THUS LOVE, um projeto que veio agitar conformismos na indústria com “Memorial”, um álbum lançado em 2022 a partir de uma pequena cidade em Vermont, Brattleboro.

No Vodafone Paredes de Coura a conversar com Thus Love – Eco Marshall, Lu Racine e Nathaniel Van Osdolt -, concerto marcado para as 21:25h do Palco YORN de 18 de agosto. Ansiosos por assistir a “Memorial”, projeto lançado em 2022. Na vossa estreia em Portugal, como fazem a escolha de temas e organizam o vosso concerto?

ECHO – “Tentamos principalmente divertir-nos e à audiência, começando com músicas que não integram o álbum e com as streams mais altas, que todos conhecem melhor, e progredindo no set começamos a mostrar novas músicas, inéditas mais punk e grimier, singles deste ano. Mudamos também a setlist consoante o tempo que nos resta, onde estamos e como nos sentimos em palco. Tudo difere, mas nestes palcos de grandes festivais, conseguimos organizar o concerto num bom arco, numa boa história.”

 

Falando um pouco de vocês, vêm de cidades e comunidades pequenas dos EUA, com uma ideia bem clara de mostrar uma imagem genuína neste projeto. Alguma vez sentiram obstáculos na indústria musical?

ECHO – “Claro, sem dúvida! O maior centra-se nos concertos, no quão sistémico e comum é haver um mecanismo de operação dominado por homens e subsequentemente, patriarcal. O mesmo acontece com a indústria (da música) no geral, mas difere consoante o sítio. A nossa presença nos EUA, em clubes de Nova Iorque, como queer, trans e gay, normalmente passa despercebida. Felizmente não é comum sermos discriminados se perceberem (audiência), mas quando sabemos que podemos ser, tendemos a ser mais reservados e compensamos no concerto. É difícil não perceber quem somos quando tocamos, porque damos a energia e as pessoas olham para os músicos e para esta linda demonstração individual de arte… é difícil sentirem-se negativamente acerca do concerto, quando és uma banda do caraças!”

 

Tocaram no lendário clube de Windmill, em Brixton. Como se sentiram ao juntar-se a esta nova vaga de artistas do Reino Unido?

 

LU – “Foi uma coisa que sonhávamos há muito tempo. Foi estranho ver-nos naquele espaço depois de pensarmos há tanto tempo nele, de visualizar o que seria sentir ser uma das bandas que saem daquela zona. Sinto-me muito sortudo, entusiasmado e honrado porque quase todas as bandas que saem de lá são das minhas favoritas. O concerto foi ótimo também.”

 

Dentro do post-punk, quais são as familiaridades nas audiências de diferentes países que vos põem na melhor disposição para fazer um concerto?

ECHO– “ A cena post-punk é transversal a muitos sítios. Se te habituares a tocar apenas na tua cidade natal ou num sítio fixo, não tens noção das possibilidades. Depois voas a sítios fantásticos e vês que milhares de pessoas estão lá para te ouvir, sem necessariamente saber quem és.”

LU– “Estamos aqui todos para o mesmo. É isso que me faz gostar de um festival, milhares de pessoas, o artista, a banda a aplaudir arte.”

ECHO– “E o staff! Tantas pessoas a trabalhar, numa dedicação brutal de esforço e recursos só para fazer acontecer. É muito fixe.”

 

A vossa carreira foi marcada por um salto grande de sucesso no lançamento do vosso álbum “Memorial”. Como veem os concertos agora, comparando com os que fizeram no pós-pandemia?

ECHO – “Tens de continuar. As coisas estão diferentes agora, e muito diferentes do que há 10 anos atrás… é garantida esta constante variável de tudo. Tudo muda. Quem sabe se estaremos aqui em 5/10 anos a poder fazer tours, não há razão para ficarmos sempre a pensar no inevitável.”

 

Uma escolha vossa, como artistas da cena DIY, foi elaborar o artwork e merchandise. Como foi este processo de juntar estes elementos ao vosso som?

LU– “Tem muito que ver com as origens da banda. A Eco tem ilustrado até agora, e a nossa banda começou numa loja de serigrafia. É boa esta camada adicional em que podemos tocar e criar para os fãs, nada é feito sem sermos nós e isso tem sido sempre importante.”

ECHO– “Temos feito arte de várias formas, não só música. Esta t-shirt foi feita pelo nosso mentor, o dono da loja. Agora ele gere outra loja e eu esta, fazemos todo o nosso “merch” lá. É uma relação inerente, se olhares para uma cena musical de qualquer década, especialmente a dos anos 80 de post-punk em Manhattan, Nova Iorque. Não eram só músicos, eram artistas visuais, dançarinos, drogados, pessoas pobres. Anda tudo de mãos dadas.”

 

Voltando ao vosso álbum, “Memorial”. Quais foram as vossas influências, desde música a literatura, que serviram de referência para este trabalho?

ECHO – “Tínhamos todos as nossas bandas preferidas, mas na altura em que gravamos o álbum não sabíamos como gravar. Pensando no álbum em termos áudios e texturais, muitos dos aspetos do “Memorial” foram devido à nossa abordagem amadora e ingénua. O álbum soaria tão diferente em estúdio… podia não ser tão bom, podia ser melhor, mas é irrelevante porque fomos verdadeiros. Claro que era bom, mas tem menos que ver com o artista que gostamos e ouvimos, mas mais com o contexto do quando e onde fizemos (a música). Mas temos bandas preferidas…(risos) tais como…”

NATHANIEL – “Bem, quando gravamos ouvíamos muitos artistas de diferentes tempos. Eu ouvia muito a proto-punk dos anos 70, a Swell Maps, Jonathan Richman, Richard Hell, e a muito rock´n´roll do sudeste asiático dos anos 60, como Ros Serey Sothea do Cambodja. E ainda goth rock dos anos 80, como Nina Hagen. Estávamos em todo o lado com as coisas que ouvíamos.”

LU– “Teve muito que ver também com tudo o que se estava a passar com as nossas vidas. Nós os três pensávamos que nunca mais iríamos tocar ao vivo. Então pegámos nas músicas e decidimos gravá-las, como uma prenda a Brattleboro, a nossa cidade. Como uma conclusão. Perdemos muita gente próxima, foi um tempo duro. A perda foi uma grande parte (do álbum), mas há beleza também. É bonito ainda tocarmos e fazermos um novo álbum.”

 

Quando produzem ouvem nuances dessas referências?

ECHO -“ Sim eu ouço! O nosso produtor que mixou e masterizou o primeiro disco, vai ajudar também no segundo LP, Matthew Hall. Durante as fases de gravação do “Memorial”, pesquisei muito sobre técnicas de gravação e as pessoas pelas quais aprendi são dos produtores e engenheiros preferidos do Matt, como a Sylvia Massy, que gravou Tool e System Of a Down, e também Steve Albini, que gravou “In Utero” e muitos outros. Ouvindo agora consigo perceber as influências, não diria da guitarra, que está cheia de m*rda, mas o baixo e a bateria tem um som muito natural, não adicionamos muito. O Matt disse-nos que podíamos fazer uma coisa maluca e mexer com o tom do “snare”, mas quisemos que ficasse como foi gravado. E um microfone parecido com este (RUC)  foi usado para o snare, outro para o kick e outro em cima, e é isto! E ele (Matt) disse que podia “cortar” as secções, pôr um compressor, um “gate” em “In Tandem” para soarem 8 microfones, e nós ouvimos e soava a m*rda.”

ECHO – “Mas definitivamente algumas texturas, a influência de Steve Albini principalmente na bateria muito “spacious” e “roomy”… estou só a ser nerd, mas o seu som de sala para baterias tem “overheads” acima dos ombros, microfones no kit mas  o microfone para o som de sala está deitado no chão e longe, sem stands devido às baixas frequências, sem tapete, só abaixo do “drum set” e a 10/15fts de distância. Isso para mim soa infinitamente melhor que muitas outras coisas. Adoramos a Grace Jones, tem arranjos muito envolventes, é sempre algo que digo.”

 

 

Todas as entrevistas realizadas no âmbito da cobertura do 30º Vodafone Paredes de Coura feita pela Rádio Universidade de Coimbra estão disponíveis no nosso serviço de podcasts, em Coberturas RUC.

Fotografia: Maria Nolasco

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