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30º Vodafone Paredes de Coura 2023 – Entrevista com Tim Bernardes

Pouco depois de Tim Bernardes abrir o palco principal do Vodafone Paredes de Coura no dia 17 de Agosto, num concerto que emanava amor, a RUC esteve à conversa com o músico paulista. 

Tim Bernardes é um dos nomes essenciais da nova MPB, título já bem estabelecido pelo artista de São Paulo. E a prova disso foi a adesão ao seu concerto no segundo dia do Vodafone Paredes de Coura. Esta foi a sua estreia no festival, que o artista partilhou no  instagram com entusiasmo, por finalmente poder pisar esse “anfiteatro natural lindo”.

Começando pela ambiência do festival e do anfiteatro natural com que somos presenteados, tentámos perceber o entusiasmo de Tim Bernardes para este concerto em específico. A natureza poderá ser uma dessas “Mil Coisas Invisíveis” que nos fala no seu longa duração,  o espaço natural que o rodeia durante o concerto também será uma dessas maravilhas? O artista confirmou, é enorme a felicidade em tocar neste festival, num ambiente que até o inspirou na escolha das músicas.

O respeito que se fez sentir pelo público, durante o concerto, também deixou Tim Bernardes surpreendido. Por ser um ambiente de festival, é fácil que a plateia caia no hábito de tornar a música dos concertos em barulho de fundo para as suas conversas. Mas esse não foi o caso no concerto de Tim Bernardes. A conexão entre artista e público era tanta que o artista sentiu que este foi um concerto mais leve e mais alegre, tudo por fruto da junção da atenção do público e do ambiente que circundava este espetáculo.

Com concertos espalhados pelo mundo na apresentação do seu mais recente trabalho, “Mil Coisas Invisíveis”, e plateias compostas por falantes de língua portuguesa e não só, a barreira linguística não afasta o público. É algo que surpreende o artista, a ligação que são capazes de sentir ao longo do concerto independentemente da língua, o músico consegue sentir esta conexão pelas diferentes plateias que o acolhem, quer seja através da melodia, da voz ou do canto.

Mas os falantes de língua portuguesa têm um ponto a favor. Conseguem perceber o que Tim Bernardes está a cantar e ganham uma ligação mais forte. Tão forte que se vê a plateia a chorar, e Paredes de Coura não foi exceção.

 

Tim Bernardes é um aficionado por instrumentos, em particular por guitarras. Transpor o som do estúdio para um concerto ao vivo pode ser uma tarefa complicada, mas Tim Bernardes simplificou esta questão ao explicar como consegue captar o som da maneira mais fidedigna possível, e quais as suas guitarras de eleição para este concerto, ou violões como gosta de se referir. É visível o carinho que o artista tem pelos seus instrumentos, especialmente pelas suas guitarras. Ao utilizar guitarras dos anos 60 e 70, muito características da MPB dessa altura, Bernardes  tem uma atenção especial para com as mesmas e respeita o som que estas produzem. Para captar o seu som, não utiliza um plug, mas sim 2 microfones, dentro e fora da guitarra, para a captação ideal.

Tenta sempre ter o som nítido de estúdio num concerto ao vivo, mas com um certo toque distinto. E este toque é a sensação que o artista procura, quase como se estivesse num programa da BBC nos anos 1970 a tocar, como confessa na entrevista. Para este concerto, optou por uma guitarra da década de 1960, como a que Jorge Ben Jor e Caetano Veloso utilizavam na altura. Já a guitarra elétrica era também dos anos 1960, mas desta vez americana.

Era quase impossível não perguntar a Tim Bernardes pelo projeto O Terno, tão querido para o artista. Apesar de andar em tour com o seu projeto a solo, continua a partilhar muito do seu tempo com os companheiros e amigos do projeto, confessando estar com vontade de regressar a tocar todos juntos.

“Ciclos” foi um tema forte no concerto nas margens do Taboão, com Tim Bernardes a proferir um discurso centrado nessa temática. O músico de São Paulo sente que há músicas que foram escritas no início de um ciclo que, por circunstâncias da vida deixaram de fazer sentido, mas que agora estão a surgir de novo. E, a cada vez que existe esta renovação de ciclos, o significado de cada tema sofre uma pequena alteração. 

Para finalizar esta entrevista, perguntámos a Tim Bernardes qual seria o disco ideal para a banda sonora do Vodafone Paredes de Coura – para além do “Recomeçar” e “Mil Coisas Invisíveis”, em destaque no concerto do artista. “Astral Weeks”, de Van Morrison é então a sua sugestão, para quem quiser sentir um pouco da magia do habitat natural da música.

 

Todas as entrevistas realizadas no âmbito da cobertura do 30º Vodafone Paredes de Coura feita pela Rádio Universidade de Coimbra estão disponíveis no nosso serviço de podcasts, em Coberturas RUC.

Fotografia por: Maria Nolasco

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