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José Manuel Silva: “Valeu a pena [a presença dos Coldplay]. Acho que hoje já ninguém discute isso”

Principal figura da CMC considera que conimbricenses têm de estar “felizes e orgulhosos” com espetáculos recebidos. Criticas ao plano de pormenor da Estação Coimbra B e situação das repúblicas de estudantes são também temas abordados pelo autarca.

Findos os concertos da banda britânica Coldplay na cidade de Coimbra e após a discussão do plano de pormenor da estação de Coimbra B, a RUC recebeu o presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) José Manuel Silva no programa Observatório de quinta-feira, dia 25.

“Correu tudo muitíssimo bem. Havia aí uns arautos da desgraça que erraram as previsões”

Como não podia deixar de ser, a entrevista arrancou com um balanço dos espetáculos recebidos pela cidade ao longo da última semana, que custaram entre 800 mil e um milhão de euros aos cofres da autarquia (despesa que se divide entre o valor pago à promotora, a isenção de taxas, o pagamento da polícia municipal, dos serviços de limpeza e da substituição do relvado do Estádio Cidade de Coimbra (ECC)). Na ótica do presidente, “o nosso lucro foi dinamizar o comércio e o turismo, atrair as pessoas a Coimbra e falar-se de Coimbra”, pelo que “mesmo que vá a um milhão [valor estimado pela oposição], valeu a pena”. Assinalando a boa organização entre todas as partes (que, segundo afirma, mereceu elogios de algumas empresas que colaboraram com a CMC), José Manuel Silva refere que “isto trouxe para Coimbra a capacidade de saber receber e organizar grandes eventos”, não esquecendo que, para que se possa fazer algo, existem sempre alguns constrangimentos. Apesar de a Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS) já ter avançado que 38% do consumo total de Coimbra nos dias dos concertos provém do bolso dos visitantes, o autarca acrescenta que, se a região se quer afirmar como área metropolitana, não se pode cingir ao concelho ao fazer as contas. Quanto a eventos futuros, adianta que já vão havendo conversações, mas que “o segredo é a alma do negócio”.

Em semana de Queima das Fitas, a alteração da data do cortejo não ficou esquecida. Depois de uma manifestação organização pelo Conselho de Veteranos no passado mês de abril, na qual o Dux Veteranorum Matias Correia criticava a desvalorização da academia em prol dos concertos dos Coldplay, o presidente da CMC considera “estranho que um jovem não tenha flexibilidade mental para perceber que há circunstâncias a que temos de nos adaptar”. Ao olhar para trás, José Manuel Silva recorda que, no seu tempo de estudante, o cortejo acontecia à terça-feira e que a passagem para domingo foi uma “violação da tradição” (algo com que concorda, pois foi uma forma de a festa se adaptar e permitir que as famílias dos fitados pudessem estar presentes na celebração) – “a tradição vale pela essência das coisas, não para ficarmos presos a circunstâncias do passado e nunca mudarmos nada. Se não evoluímos continuávamos a viver nas cavernas”.

“A crítica [relativamente às questões ambientais associadas ao projeto para a estação Coimbra B] é exclusivamente política, não tem qualquer fundamentação técnica ou ecológica”

Boa parte do programa acabou por ser dedicado ao projeto do arquiteto catalão Joan Busquets para a estação Coimbra B, cujo período preventivo do plano de pormenor decorre até esta segunda-feira, dia 29 (a participação pública deve ser formalizada por escrito, dirigida ao presidente da CMC, e enviada para o endereço postal, por e-mail para [email protected] ou entregue nos postos de atendimento do município). José Manuel Silva olha para o que está idealizado com otimismo e acredita que “vamos ter uma cidade completamente diferente: ampla, com mais luz e com mais qualidade de vida”, uma vez que aquilo que o plano ambiciona vai muito além do lifting anteriormente previsto para a estação. O autarca estabelece um paralelismo com a estação do Oriente, em Lisboa, e concretiza que “vamos ter ali uma estação em que todos os meios de transporte se concentram e divergem”, acabando com a “vergonha” da paragem dos FlixBus e da rodoviária da Fernão de Magalhães. Para além destas mais valias, o presidente destaca ainda a aproximação à baixa da cidade, a construção de novos prédios e o desenvolvimento daquele que se pretende que seja um novo centro urbano da cidade, que envolve a zona do Loreto e da Pedrulha.

Confrontado com uma petição subscrita pela Quercus – Núcleo Regional de Coimbra, pela Iris – Associação Nacional de Ambiente, pelo Campo Aberto – Associação de Defesa do Ambiente, e pelo ClimAção Centro, que conta já com mais de 850 assinaturas, o líder da coligação Juntos Somos Coimbra desvaloriza as considerações enunciadas. Conforme avalia, “esta aposta vai contribuir para os objetivos de desenvolvimento sustentável”, uma vez que a própria implementação da alta velocidade vai reduzir o tráfego aéreo e que “tudo o que está a ser feito é com medidas de compensação e mitigação”, das quais destaca o alargamento da Mata Nacional do Choupal e a criação de novas áreas verdes na cidade. José Manuel Silva lembra que, “se não cortássemos nenhuma árvore, vivíamos todos no campo em tendas debaixo das árvores”, pelo que, na sua visão, é impensável pensar o desenvolvimento sem que alguma vegetação seja sacrificada – “a nossa preocupação tem de ser melhorar  a dinâmica ecológica dos ecossistemas e aumentar a área verde da cidade”.

“Queremos apoiar as verdadeiras repúblicas”

Já bem perto do final da entrevista, houve ainda uns minutos para dedicar à situação das repúblicas de estudantes, cuja sustentabilidade está em risco. Com a abertura do procedimento administrativo com vista à elaboração do Regulamento Municipal de Proteção de Entidades de Interesse Histórico e Cultural ou Social Local a ter sido aprovada na reunião de executivo camarário do passado dia 8, José Manuel Silva realça que “estamos a fazer aquilo que nunca foi feito”. No entanto, o presidente refere que “há repúblicas que não são verdadeiras repúblicas” (ou seja, que não albergam exclusivamente estudantes) e questiona: “o que é que se passa no reino das repúblicas para que, de há muitos anos a esta parte, não haja a constituição de uma nova república?”. Sendo que o apoio da Câmara não pode exceder os 10% do valor total dos imóveis, o presidente acrescenta que apenas aumentando as receitas é possível que a autarquia apoie mais – para isso, segundo explica, existem duas soluções: ou se aumentam as taxas e o IMI para “encher os cofres” (uma medida com a qual não concorda porque implica a penalização dos munícipes) ou se estimula a dinâmica económica da região (algo para que contribuem eventos como os concertos dos Coldplay, mas para que, no seu entender, também é necessária a reindustrialização de Coimbra).

Para ouvir a entrevista na íntegra pode consultar o podcast acima ou aceder através do nosso Spotify.

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