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Semana à Sexta: o estado do Serviço Nacional de Saúde

Após uma pandemia que veio enfatizar os problemas do Serviço Nacional de Saúde, Isabel Clímaco e José Tralhão discutem o investimento na saúde previsto no Orçamento de Estado para 2023 e criticam a má gestão dos recursos médicos, assim como a falta de perspetiva de progresso na carreira dos profissionais de saúde, em Portugal.

Isabel Clímaco, professora da área da economia no Instituto Superior de Contabilidade e Administração (ISCAC) e especialista em economia da saúde, e José Tralhão, professor na Faculdade de Medicina na Universidade de Coimbra (FMUC) e presidente da Assembleia Regional da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) foram os convidados do Semana à Sexta do dia 23 de dezembro, que abordou o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Ambos os entrevistados prezam Fernando Araújo, o novo diretor-executivo do SNS. José Tralhão recorda que Fernando Araújo é um “homem experiente e dedicado” e mostra-se esperançoso com as escolhas do diretor no que diz respeito às necessidades dos cidadãos e profissionais de saúde. No entanto, Isabel Clímaco diz existirem incoerências nos estatutos da direção-executiva que atribuem ao seu diretor um papel coordenativo, com pouco poder de decisão.

O Orçamento de Estado para 2023 (OE2023) inclui um aumento de 10,5% do financiamento da saúde, em comparação ao orçamento inicial de 2022, o que resulta em 14,8 mil milhões de euros. 10 milhões de euros é o montante previsto para o SNS. A docente do ISCAC afirma que “enquanto economista, não estou muito otimista” com os valores estipulados para a saúde e relembra que apesar dos aumentos parecerem significativos, Portugal sofreu uma inflação em torno dos 10%, revertendo-se num poder de compra dos portugueses “corroído” e negativo em termos de crescimento.

Os pagamentos em atraso, a má gestão dos recursos, os investimentos por concretizar e a “incógnita” da saúde oral são alguns dos assuntos essenciais que ficam em aberto, para Isabel Címaco. Contudo, a economista aponta a falta de médicos de família como o “grande calcanhar de Aquiles da saúde”. Segundo a entrevistada, deve-se investir na prevenção das doenças, um trabalho que compete aos serviços primários. “Nós não devemos tratar a doença, devemos prevenir a doença”, indica Isabel Címaco.

José Tralhão reconhece não se encontrar habilitado para afirmar com rigor se o valor do financiamento da saúde, previsto pelo OE2023, é suficiente e necessário para os desafios do SNS. Todavia, o médico refere a exaustão dos profissionais, devido à pandemia da COVID-19, e a falta de desvalorização das carreias na área da saúde. Na perspetiva do docente da FMUC a saúde e a educação são o “mínimo que se deve oferecer a uma sociedade, numa forma mais gratuita possível”. Expandir o acesso à saúde, através de um médico de família que consequentemente vai agir na prevenção da doença, é um grande desafio do SNS, segundo médico.

O presidente da Assembleia Regional da SRCOM observa uma grande desmotivação dos profissionais da área da saúde, por falta de pessoal  e estagnação das carreiras. O professor da FMUC reconhece que as pessoas devem valorizar o seu bem estar e qualidade de vida, algo possível de se encontrar noutras instituições do SNS e países. Isabel Climaco partilha a mesma visão e sublinha que as gerações mais novas olham muito para a qualidade de vida em termos profissionais, um ponto que,de acordo com a economista, o Estado tem que ter em conta. José Tralhão revela que um dos maiores serviços hospitalares do país contava há 15 anos com cerca de 20 chefes e, atualmente, dispõe somente de dois.

O médico considera que as urgências são igualmente um problema, uma vez que são o único ponto de ajuda e informação dos portugueses, em constante funcionamento. O entrevistado reconhece que “a culpa não é dos cidadãos, eles não têm alternativa”. Isabel Clímaco concorda com a opinião do presidente da Assembleia Regional da SRCOM, mas destaca a falta de literacia em saúde no país como uma das causas que contribuem para a ineficácia das urgências hospitalares.

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