[object Object]

Posições das listas candidatas à DG/AAC diferem da postura do seu eleitorado

Propina, ENDA e reivindicação são temas em que é mais notória a diferença de visões. Listas E e P ganham votos entre estudantes mais velhos e entre quem tem mais entraves à frequência no Ensino Superior.

Nas sondagens realizadas pelo Jornal Universitário ‘A Cabra’ e pela RUC no âmbito das eleições para a Direção-Geral e Mesa da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra, os órgãos de comunicação social responsáveis procuraram ir para lá dos resultados eleitorais, colocando questões acerca dos principais problemas discutidos em campanha. Cruzando os dados, é possível perceber que muitos dos eleitores de cada um dos projetos não está alinhado com as ideias defendidas pelos seus dirigentes:

Lista E – Conjunto mais coerente não foge à tendência

Com uma amostra de apenas 54 pessoas que afirmaram ter intenção de votar na Lista E (dentro de um universo de 1000 estudantes interpelados), esta análise não deixa de estar envolta nalguma incerteza. No entanto, considerando a forma como estes associados respondeu à totalidade do inquérito, podemos perceber que as ideias deste projeto não são imunes não têm um casamento perfeito com as convicções daqueles que nele pretendem votar.

Se a Lista E – “Estudantes Primeiro” tivesse de ser definida numa só ideia, podíamos facilmente apontar a vontade de sair à rua e de resolver os problemas dos estudantes pelo coletivo. Basta uma pesquisa rápida para perceber que os pilares da candidatura são “Proximidade, Unidade e Combatividade”, sendo que já em diversas ocasiões o cabeça-de-lista Gonçalo Lopes teve a oportunidade de afirmar que privilegia a “luta” em detrimento do diálogo institucional. Dito isto, não deixa de ser estranho que apenas 55,6% dos seus eleitores se mostrem insatisfeitos com a ação reivindicativa da AAC (24,1% diz que esta é adequada, enquanto 20,3% não tem opinião formada). O mesmo se passa quando falamos, por exemplo, da resposta dada pelos eleitores à questão “A AAC deve procurar investimento externo para garantir a sua sustentabilidade?”. Se Gonçalo Lopes é perentório, acreditando que a resposta deve ser “Não”, a verdade é que esta opinião só coincide com a de 24% daqueles que o pretendem eleger, ao contrário de um “Sim” que acolhe 46,3%

No entanto, é difícil dizer que esta não é a lista que reúne maior consenso, com a discussão da permanência no Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA) a ser um exemplo disso. Das 54 pessoas consideradas, só 3 concordam com a saída do espaço de discussão, enquanto 32 querem ficar (conforme tem vindo a ser defendido por Gonçalo Lopes). É também esta a lista onde se vê maior coerência quanto à questão da propina, embora não se possa falar num domínio avassalador da ideia predominante. Lembrando que, em debate, o líder do movimento afirmou “que vai defender o fim do ato da propina, taxas e emolumentos”, temos agora que, daqueles que dizem votar E, são menos de 50% os que se posicionam pela extinção da propina (23 estudantes – 42,6%). Considerando os 22,2% que apontam à diminuição gradual da propina até 0, podemos dizer que cerca de 65% almeja a extinção da taxa, sendo que mais 25,9% quer a sua diminuição. Para fechar este bolo, três pessoas acreditam que a propina deve ser mantida (5,4%) e duas não têm opinião formada (3,7%).

Lista P – Eleitorado volátil é aquele que menos vontade tem de ficar no ENDA

À semelhança daquilo que acontece em relação à Lista E, a amostra de estudantes cuja intenção de voto está com a Lista P – “Parem de EmPatar” é também bastante reduzida (52 pessoas), pelo que todos os dados extrapolados a partir daqui são também pouco representativos. Atendendo ao caráter da lista, seria já de esperar que as visões de quem a subscreve não fossem consensuais – algo que os dados vêm confirmar.

O caso mais gritante é o da propina. Levantando alguma polémica, a lista diz ser pelo aumento da propina nacional até que atinja o valor da propina internacional. De entre aqueles que estão ao lado da Lista P, apenas quatro estudantes acreditam que a propina deve aumentar (7,7%). No sentido inverso, os simpatizantes da candidatura conseguem reunir mais consenso (em termos de peso relativo) em torno da abolição da propina do que aqueles que afirma votar na Lista S (19,2% vs 13,9%). Em relação à permanência no ENDA, foi entre o eleitorado da Lista P que surgiu um maior movimento de apoio à decisão tomada em Assembleia Magna) – são nove pessoas (17,3%) dos que votam P, quase 1% da totalidade dos estudantes inquiridos. No entanto, 53,7% destas 52 pessoas está do lado da maioria, defendendo a permanência no ENDA. De referir ainda que, comparando com os eleitores de João Caseiro e Gonçalo Lopes, é nesta amostra que a insatisfação com a ação reivindicativa tem mais expressão, sendo que 57,7% a acha insuficiente e que 3,8% a considera excessiva.

Lista S – A vontade de permanecer no ENDA e os anticorpos em relação ao fim da propina dos eleitores

O eleitorado de João Caseiro é aquele em que se regista o maior conjunto de surpresas, sendo que é também aqui que encontramos uma amostra mais representativa (288 estudantes).

A diferença entre a posição de João Caseiro relativamente à permanência no ENDA e a postura assumida pela vasta maioria do seu eleitorado (mais de 60%) é, sem sombra de dúvida, aquela que se destaca dentro dos dados recolhidos. Com um peso percentual maior do que qualquer uma das outras listas, o “Sim” é a resposta mais comum à pergunta “A AAC deve permanecer no ENDA?”. Seguindo o caminho da maioria, também as pessoas que preferem a lista de João Caseiro estão longe de acreditar no fim da propina. Entre os eleitores das listas candidatas, vemos que é aqui que as pessoas estão mais longe da reivindicação consagrada nos estatutos da AAC, com menos de 40% de pessoas a querer vê-la consumada (13,9% defendem a abolição, 26% são pela descida gradual até 0 – posição adotada pelo presidente e recandidato). No entanto, de notar ainda que, face aos dados gerais, desce a percentagem de pessoas que não tem opinião formada, que quer o aumento e a manutenção, subindo o peso daqueles que querem a mera diminuição (41,3%).

Apesar de nestes dois campos existir um desfasamento muito grande, a verdade é que (embora o desconhecimento seja esmagador) há algum consenso relativamente ao Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (39,6% quer a revisão, 47,9% não tem opinião formada) ou em relação à ação reivindicativa da associação (45,5% acredita ser adequada, 24% pensa que é insuficiente e 30,2% revela alguma ignorância perante o assunto). No entanto, em nenhum dos casos se pode falar num verdadeiro entendimento – isto só acontece realmente quando abordamos a problemática do financiamento externo, onde vemos que 69,8% em concordância com João Caseiro, que afirma que a AAC não deve ser feita apenas de fundos públicos.

Desconhecimento e Caseiro crescem entre estudantes que não trabalham, não beneficiam de bolsa e não são deslocados. Votos nos Listas E e P são residuais entre estudantes de primeiro ano, mas aumentam ao longo dos anos de licenciatura.

Noutras notas, podemos ainda ver que, entre aqueles que enfrentam menos condicionalismos para frequentar o Ensino Superior, ganha força a Lista S, enquanto as Listas E e P perdem expressão. O intervalo em que se encontram todos os estudantes que são de Coimbra, não recebem bolsa e não são trabalhadores-estudantes conta com 241 pessoas, sendo que 116 destas (48,1%) responderam “Não sei” quanto à eleição para a DG/AAC. Em peso percentual, a Lista S passa dos 28% para os 31%, enquanto as outras duas listas caem dos 5% para os 3%. A ordem inverte-se quando procuramos estudantes mais condicionados, mas a amostra em que todos trabalham, são bolseiros e são deslocados não é representativa.

É ainda possível fazer uma análise aos resultados atendendo o número de matrículas de cada estudante. Para os recém-chegados, o desconhecimento é naturalmente mais acentuado, descendo assim as intenções de voto em todas as listas (22,3% na Lista S, 2,6% na Lista P e 4% na Lista E). No segundo ano, a Lista S regista o seu melhor resultado, sendo a única faixa em que ultrapassa os “Não sei” (39,9% vs 33,7%). Depois, estabiliza na ordem dos 30% entre os estudantes de 2º ano e 4º ano, voltando a cair entre os mais velhos. Por seu lado, a Lista E tende a crescer ao longo do percurso académico, com uma quebra no 4º ano, em que apenas 2,5% dos inquiridos simpatizam com o projeto. Da mesma forma, a Lista P também cresce progressivamente conforme os estudantes acumulam matrículas, chegando aos 11,2% entre aqueles que estão há mais de 5 anos.

Ficha Técnica:

Este inquérito foi realizado no dia 10 de novembro, entre as 9 e as 18 horas. 1000 estudantes foram questionados, correspondendo a cerca de 3,5% dos estudantes da Universidade de Coimbra (UC), de forma aleatória, de entre todas as faculdades, sendo que se considera margem de erro de 3% para um intervalo de confiança de 95%. A distribuição das amostras foi feita com base em dados numéricos cedidos pela UC, tendo em conta quantos estudantes tem cada unidade orgânica. A responsabilidade desta sondagem é do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA e do Departamento de Informação da Rádio Universidade de Coimbra.

 

PARTILHAR: