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“Os Cadáveres São Bons Para Fazer Minas” – o passado que também é presente chega à Oficina Municipal do Teatro

O cerne está nos testemunhos de familiares e de soldados mobilizados para a Guerra Colonial recolhidos em parceria com o Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

O Teatrão apresenta até dia 13 de novembro, o espetáculo “Os Cadáveres São Bons Para Fazer Minas”, uma coprodução da companhia de Coimbra com o Teatro Municipal Joaquim Benite de Almada. Com texto assinado pelo dramaturgo Jorge Palinhos e encenação de Isabel Craveiro, a peça encerra a narrativa iniciada em 2018 pelo Teatrão denominada CASA.

A peça que chega à Oficina Municipal do Teatro (OMT) não é exceção. O processo até à estreia foi demorado, com cerca de um ano e meio de preparação. A diretora artística do Teatrão, Isabel Craveiro, fala na recolha de testemunhos reais, posteriormente ficcionados, sempre atendendo à privacidade e à sensibilidade requeridas, uma vez que muitos dos entrevistados estão em terapia e viram a vida marcada pelo que viveram e testemunharam na Guerra Colonial.

O cenário é nu e frio, composto por suportes que recebem as sulipas de caminho de ferro que o elenco vai manejando para organizar o espaço ficcional. A cenografia e figurinos têm assinatura de Filipa Malva. No ensaio de imprensa ouvem-se sussurros dos antigos combatentes, hoje espetadores, à medida que os jovens atores avançam pelo palco em direção à luz e às memórias dos que os observam. Há quem se comova, quem saia, quem fique. Ninguém fica indiferente.

O ator João Santos explica a dificuldade em retratar com exatidão o que por lá se passou.

Desce a luz e na plateia há quem aplauda. São homens e mulheres a quem os dias na Guerra Colonial ainda se fazem teimosamente presentes. Partilham elogios, mais histórias desses dias. Há quem se recorde da preparação física da altura, do jogo da moeda ou dos presuntos de Lamego enviados por familiares. Mas também das emboscadas no milheiral, dos camaradas que partiram e da revolta que o esquecimento e a ingratidão lhes provoca.

A estreia da peça fez-se em Almada no passado dia 15 de setembro. A encenadora ressalta a receção positiva do público, assim como o trabalho que a Companhia de Teatro de Almada tem vindo a desenvolver.

A temporada do espetáculo inclui a conversa: Guerra Colonial – Tempo Presente, numa Coorganização Teatrão e CROME/Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), dia 29 de outubro, às 18h na OMT. Vão ser convidados a refletir e a discutir a temática Miguel Cardina, investigador do CES, coordenador do projeto «CROME – Crossed Memories, Politics of Silence. The Colonial-Liberation Wars in Postcolonial Times» e Luísa Sales, psiquiatra, coordenadora do Observatório do Trauma do CES.

Fotografia: Teatrão@Carlos Gomes

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