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Coimbra D: Eurodeputadas defendem transportes públicos, divergem ideologicamente na saúde e discordam no futuro da baixa

As eurodeputadas Marisa Matias (BE), Lídia Pereira (PSD) e Maria Manuel Leitão Marques (PS) participaram no debate “Coimbra na Europa”, onde se discutiu os mobilidade, saúde, ação social, justiça e o potencial de Coimbra.

No dia 15 de julho o programa Coimbra D, espaço dedicado a debates em torno de Coimbra na antena da RUC, recebeu Marisa Matias , Lídia Pereira e Maria Manuel Leitão Marques, eurodeputadas eleitas pelo BE, PSD e PS, respetivamente. O debate intitulado “Coimbra na Europa” teve como destaque Coimbra do ponto de vista de quem legisla no parlamento europeu, conhecendo a realidade da cidade dos estudantes.

Durante o debate houve consenso entre as três eurodeputadas no potencial de Coimbra em várias áreas. Embora Marisa Matias descreva um “divórcio faseado entre a Universidade e a Cidade”, ao longo dos tempos, as ex-estudantes da Universidade de Coimbra (UC) defenderam a relação da cidade com a faculdade é da mais elementar importância. Lídia Pereira exortou para o desenvolvimento do tecido empresarial, de forma a atrair novos investimentos e novos empregos, recordando o seu passado associativo, onde ajudou a criar a primeira feira de emprego na Faculdade de Economia da UC, que se mantém até aos dias de hoje. Maria Leitão Marques fez um apelo para que não se escondam as joias de Coimbra.

O passo em falso na vinda do Tribunal Constitucional para Coimbra e a falta de instalações renovadas são apontadas como razões para que haja indignação

Maria Leitão Marques admite estar farta da retórica pessimista em Coimbra, que leva a um sentimento de derrotismo. Para a eurodeputada pelo PS, Coimbra devia ter-se indignado quando foi tomada a decisão do Tribunal Constitucional não ser transferido para a Coimbra. Na altura da votação no parlamento para a mudança do Tribunal Constitucional e do Supremo Administrativo para Coimbra, apenas votaram favoravelmente sete deputados da bancada do PS (os que forma eleitos por Coimbra). Maria Manuel Leitão Marques denuncia ainda o facto de Coimbra não ter instalações na área da justiça renovadas, enquanto outras cidades com menos atividade judicial já o têm.

Investimento no carro automóvel e desinvestimento na ferrovia são dados como retrocessos na mobilidade

O investimento no transporte público, de forma a combater as alterações climáticas, foi unânime entre as três decisoras políticas.

A militante do PS enumerou políticas pró-carro individual que são implementadas nos dias de hoje em Portugal, provocando a dependência do carro, bem como o desinvestimento crónico nos serviços público de transporte.

Já Marisa Matias caracterizou o município de Coimbra como um cemitério de projetos relativos à mobilidade, devido à “má sorte nos executivos autárquicos eleitos dos últimos anos”. Marisa Matias afirmou que não concorda com a opção de internalização dos SMTUC, concluindo que a iniciativa é o resultado de uma linha de projetos que coloca Coimbra cada vez mais atrás na área da mobilidade.

A eurodeputada eleita pelo BE lembrou o desmantelamento de linhas ferroviárias em Coimbra com a promessa de construção do metro por cumprir, alertando também que Portugal não segue a tendência do resto da Europa, ao não investir na ferrovia.

O relacionamento do estado com os privados na saúde e o estado do Serviço Nacional de Saúde foram pontos de divergência

Na área da saúde, Marisa Matias recordou as lutas dos trabalhadores que exigem aumentos salariais e avisou que parte significativa do orçamento de estado destinado à saúde vai para os privados. A deputada com 13 anos de experiência no Parlamento Europeu disse que, comparativamente com o resto da Europa, Portugal tem dos melhores serviços de saúde.

Para Maria Manuel Leitão Marques, o SNS não é o monumento que tem de se manter igual a quando foi criado, daí não excluir a iniciativa privada. No entanto, a ex-ministra da Presidência e Modernização Administrativa do governo de António Costa pede o mínimo de rigor na competição entre a saúde pública e privada. Para si, não é concebível que um diretor de um serviço de um hospital público faça publicidade a dizer que está no hospital privado, como viu num cartaz em Coimbra.

Lídia Pereira afirmou que a maioria dos casos dos hospitais que estiverem em gestão de parcerias público-privada tinham resultados e oferta de serviços de qualidade, lamentando que haja listas de espera no SNS com vários anos. A presidente da Juventude do Partido Popular Europeu partilhou uma história caricata durante o debate, em que uma senhora apareceu para uma consulta no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra um ano mais cedo do que o previsto.

Exclusão social e a necessidade de resolver o problema da Baixa de Coimbra caracterizou a tentativa de descentralização de instituições de apoio social concentradas na baixa

No tema da ação social, Marisa Matias sente-se “envergonhada” com a iniciativa do executivo camarário ao propor a descentralização de instituições de apoio social concentradas na baixa pelo resto do município. A ex-candidata a Presidente da República afirma que retórica do executivo não é inovadora e já foi utilizada noutras cidades portuguesas, com o objetivo de afastar pessoas de menor rendimento dos centros das cidades.

Já Lídia Pereira discorda de Marisa Matias ao achar que os dirigentes políticos têm o dever de arranjar uma solução para os problemas que são apontados há muitos anos pelos comerciantes da Baixa. Apesar de não reconhecer a proposta do executivo da Câmara em detalhe, a eurodeputada eleita pelo PSD diz que não é possível resolver os problemas de tráfico de droga na zona da Baixa de Coimbra se instituições de apoio social estiverem lá concentradas, declarando que “a zona da Baixa está hoje inserida em redes de tráficos de droga”.

Maria Manuel Leitão Marques sublinhou a desertificação da Baixa com a falta de pessoas, advertindo que a região centro tem de estar atenta à perda demográfica e de investimento para a região norte e de Lisboa, como defende também Lídia Pereira, para que Coimbra sirva de contrapeso ao centralismo de Lisboa e Porto.

O debate pode ser ouvido na íntegra a partir do link no topo da peça ou no nosso Spotify.

(Fotografia: Diário ‘As Beiras’)

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