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Manuel Alegre: “Que surjam mais escritores, mais leitores e mais atletas” na Academia de Coimbra

Manuel Alegre lembrou a presença em Coimbra de escritores como Camões, Camilo Pessanha e tantos outros para deixar um desafio aos estudantes da cidade. A sua participação como atleta da AAC também não foi esquecida na apresentação do original do livro do autor, “Praça da Canção”, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.

Manuel Alegre foi Campeão Nacional de Natação como atleta da Associação Académica de Coimbra (AAC) e participou na vida de Organismos Autónomos como o CITAC e o TEUC tendo escrito em jornais estudantis como a Vértice, a Via Latina e A Briosa.

Que “surjam mais escritores, mais leitores e mais atletas porque não se compreende que Coimbra não seja o polo principal do desporto universitário português”, apelo de Manuel Alegre aos estudantes de Coimbra, à margem da apresentação do original do livro do autor, “Praça da Canção”, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, ontem, dia 13 de junho.

Entregue nas mãos de Rui Alarcão, reitor da Universidade de Coimbra (UC), em 19 de dezembro de 1984 por Manuel Alegre, o “dactiloscrito” da Praça da Canção regressou às mãos do autor porque “mão amiga” o salvou da destruição habitual, que ocorria nas tipografias depois de impressa a obra, contou António Eugénio Maia do Amaral, diretor-adjunto da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), perante uma assistência interessada.

Em 1964, Manuel Alegre partiu para o exílio, primeiro para Paris e depois para Argel onde permaneceu dez anos. Em Argel foi “A voz da Liberdade”, afirmou o diretor da BGUC, João Gouveia Monteiro.

António Pedro Pita, docente da Faculdade de Letras, lembrou que antes do exílio, Manuel Alegre esteve dois meses escondido em casa de Rui Feijó, em Vilar, Lousada, onde o poeta chegou pela mão de João José Cochofel. Aí organizou o livro e aí o deixou. Ontem, Manuel Alegre revelou emocionado a importância da ajuda que teve.

Editado em 1965, o livro Praça da Canção foi apreendido por indicação da censura mas os poemas foram cantados por intérpretes como Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília ou Manuel Freire. Apreendido pela polícia política do regime começou a circular de forma clandestina e assim se perpetuou.

A BGUC acolheu ao tempo do Estado Novo, tanto os escritos de homens do regime como fotos da crise de 1969 da Secção de Fotografia da Associação Académica de Coimbra, para que não caíssem nas mãos da PIDE, lembrou Eugénio Maia do Amaral. Na Biblioteca Geral da UC guardam-se tesouros de muitos séculos. Porque soube acolher documentos mesmo “em tempos conturbados”, a BGUC é marca do Património Europeu, acrescentou o seu diretor-adjunto.

Coube ao professor da Faculdade de Letras, José Bernardes, em representação da Liga dos Amigos da BGUC, dirigir a apresentação. Ao contrário da Bíblia Atlântica do século XII, exposta no início do mês na Biblioteca Geral da UC, “temos na sala o autor e a pessoa que compôs o livro que é indiscutivelmente um tesouro”, esclareceu bem-humorado.

No final, o copista da “Praça da Canção”, João Hingá de seu nome, contou ao público a história de vida como gráfico desde o tempo das letras em chumbo até aos computadores.

Fotografias: gentilmente cedidas pela BGUC

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