[object Object]
09.06.2022POR Helena Pais

Paulo Coelho: “A grande razão para não se utilizar bicicleta em Coimbra é porque as pessoas efetivamente não querem mudar”

O professor explicou à RUC quais julga que são as razões que levam as pessoas a não usar bicicleta em Coimbra e o que deve ser feito para acabar com aquilo que diz ser a “ditadura automóvel”.

No dia 3 de maio assinalou-se o Dia Mundial da Bicicleta, por isso a RUC convidou Paulo Coelho, professor no Departamento de Engenharia Civil (DEC) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), a partilhar a sua perspetiva sobre a utilização de bicicleta em Coimbra, no espaço de comentário do Observatório.

“É difícil as pessoas largarem o automóvel, apesar dos preços dos combustíveis e apesar de todas as pessoas hoje em dia saberem claramente que não é, do ponto de vista ambiental, sustentável”

No dia 25 de maio, a revista digital Coimbra Coolectiva promoveu uma conversa no café do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) sobre a questão “Não dá para usar bicicleta em Coimbra: verdade ou mito?”. Em resposta à pergunta lançada pela Coimbra Coolectiva, Paulo Coelho afirmou, em conversa com a RUC, que “é possível utilizar bicicleta em Coimbra como noutras cidades europeias”, mas as pessoas estão habituadas a deslocar-se de carro e “não querem mudar”.

“Há já algumas ciclovias relativamente longas em Coimbra, mas ainda não existe uma continuidade que permita que as pessoas façam uma ligação segura dentro da própria cidade”

Apesar de crer que a dificuldade em mudar o hábito de usar o carro é “a grande razão” para as pessoas não optarem por usar a bicicleta para se deslocarem, o professor admite que “podemos encontrar outras razões”, destacando uma: “as pessoas não se sentem seguras a andar de bicicleta” na cidade, porque há áreas que não são abrangidas pela rede de ciclovias e, portanto, os ciclistas são obrigados a transitar na estrada. “Há sempre alguma insegurança quando se anda de bicicleta numa estrada com automóveis”, explica. Desde logo, porque, na opinião de Paulo Coelho, a velocidade máxima permitida aos automóveis dentro das localidades é “excessiva” e põe em risco os peões e outros veículos de transporte, como as bicicletas.

“As pessoas não vão aderir em massa [à utilização da bicicleta] enquanto não houver uma penalização da utilização do veículo automóvel privado”

No entanto, Paulo Coelho retomou o argumento inicial: a falta de ciclovias na cidade é, na opinião do professor, uma “desculpa” à qual as pessoas se “agarram”, porque “é difícil mudar” o hábito de utilizar o carro. Por isso, sustenta que para levar os habitantes de Coimbra a pessoas a optarem pela bicicleta para se deslocarem é preciso, além de expandir a rede de ciclovias e reduzir os limites de velocidade, limitar a circulação e o estacionamento de automóveis particulares.

Para o professor, é necessário implementar “um conjunto de medidas integradas” que privilegie a “utilização de sistemas de transportes sustentáveis”, sem deixar, no entanto, que as pessoas que têm necessidade de utilizar o carro possam fazê-lo, pois não defende “que se passe da ditadura do automóvel privado para a ditadura da bicicleta”. Paulo Coelho também adverte que a aplicação de medidas sobre a circulação automóvel implica “um estudo integrado”. “E há pessoas na Câmara Municipal de Coimbra com capacidade técnica para o fazer ou, pelo menos, para o coordenar”, segundo o professor.

A mobilidade sustentável é, na perspetiva de Paulo Coelho, um campo com “muito para fazer” em Coimbra, não só pelos motivos elencados, mas também porque a cidade “continua sem infraestruturas de transporte [público] interligadas”.

A entrevista na íntegra pode ser ouvida através do link que se encontra no topo do artigo.

PARTILHAR: