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O Tempo do Teatro: Uma viagem intertemporal pelo teatro universitário

No dia 27 de março, a encerrar a programação do 36º aniversário da Rádio Universidade de Coimbra, realizou-se uma emissão especial a assinalar o Dia Mundial do Teatro. Um programa que fechou, também, o ciclo de conversas organizadas pelo departamento da informação sob o mote do “Tempo”. Tempo do teatro e de assinalar os 36 anos da RUC e os 65 anos do Círculo de Iniciação Teatral da Academia (CITAC) que, este ano, se propôs a “queimar a casa”.

A emissão especial inserida na programação dos 36 anos da Rádio Universidade de Coimbra, “Tempo do Teatro”, divide-se em diferentes partes, numa viagem intertemporal pelo passado e presente do teatro universitário.

O “Caos” e o CITAC

Em primeiro lugar, recebemos os atores do CITAC, Fernando Oliveira e Maria Forjaz, que, em diálogo com o corpo ausente do encenador, Gil Mac, falaram sobre o mais recente espetáculo do grupo, “Caos”, apresentado no dia 10 de março no Teatro Académico de Gil Vicente.

A atriz, Maria Forjaz, refere que a nova direção do CITAC sentiu necessidade de redescobrir e de se apropriar da casa que os acolhe enquanto grupo de teatro universitário, na fase de pós-pandemia. Isto porque, devido às restrições impostas no âmbito da covid-19, o curso de formação do CITAC aconteceu com limitações, num formato sobretudo online, o que dificultou a construção de um sentimento de pertença coletiva.

“Sentimos vontade de criar algo vindo das nossas entranhas, com esta nossa mentalidade de descobrir o CITAC e de nos descobrirmos a nós.” – Maria Forjaz

Nos 65 anos do CITAC, Fernando Oliveira afirma que o mote “queimar a casa”, que deu nome à programação de aniversário, partiu de um desejo de renovação. Em relação à peça Caos, avança que a maior dificuldade foi o curto espaço de tempo que tiveram para a preparar. Em 20 dias, os artistas foram convidados a fazer uma viagem interna, mobilizando o corpo, a memória e as emoções. O espetáculo Caos vai estar em temporada no teatro estúdio entre os dias 25 e 28 de maio.

Uma história do CITAC

De seguida, o antropólogo e performer, Ricardo Seiça Salgado, na companhia do antigo membro do CITAC, João Viegas, revisitaram a história do grupo, desde o seu nascimento, em 1956, até aos dias de hoje. Antes de aprofundar a conversa, foi necessário tentar definir o teatro, a partir da sua etimologia.

“O teatro é uma perspetiva, impõe logo um local, um espaço. Na nossa sociedade em Portugal, os políticos não perceberam que para se fazer teatro as pessoas precisam de espaço.” – Ricardo Seiça Salgado

O CITAC iniciou a sua atividade em 1956 e desenvolve criações no domínio do teatro, com um forte compromisso social e cultural. No ano de 1971, o grupo de teatro universitário foi obrigado a encerrar pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado Novo (PIDE). Sucessão de acontecimentos que demonstra que o teatro é, também, um ato político, como avança João Viegas.

“O teatro é intervenção. Se não for intervenção não vale a pena, sobretudo naquela altura.” – João Viegas

Em 1974, o CITAC volta a abrir portas, assumindo-se como um modelo paradigmático dentro do teatro universitário. O antropólogo, Ricardo Seiça Salgado, afirma que o caixa negra do teatro funciona como um espaço que carrega a memória-histórica de todos os que passaram pelo organismo autónomo. Para o performer, a passagem de testemunho que permite uma construção quase ininterrupta no tempo devia ser a base do teatro em Portugal. Nas suas palavras, o CITAC funciona como um núcleo onde se “aprende a aprender” e a viver inconformado.

Os desafios do teatro universitário

O passado dá lugar ao presente, com o CITAC e o Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) sentados à mesa para discutir os desafios que o teatro universitário enfrenta hoje em dia. Esta parte da emissão contou com a presença das citaquianas, Maria Cunha e Maria Forjaz, e das atuais membros do TEUC, Verónica Chiriboga e Natália Santana. As atrizes referiram a falta de financiamento, face aos constrangimentos impostos por serem organismos autónomos. Para além disso, foi abordada a questão da degradação do edifício da Associação Académica de Coimbra (AAC) que dificulta o trabalho dos corpos que compõem a associação, sendo que as infiltrações de água podem mesmo provocar danos graves ao material que existe nas salas.

“Queremos resolver isto [problemas no edifício] e andam a chutar-nos de um lado para o outro, não nos apoiam, não nos ajudam e nós não sabemos como reagir.” – Maria Forjaz

Em relação aos espaços que possibilitam a prática do teatro universitário, salientam que deveriam existir mais sinergias com o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV). O TAGV foi inaugurado em 1961 era parceiro direto da AAC e gerido por uma comissão que integrava os representantes do estudantes. A estrutura de co-gestão foi esmorecendo, sendo que as intervenientes afirmam que seria importante os órgãos autónomos voltarem a ter mais acesso às salas e ao palco do TAGV e um contacto mais permanente e frutífero com a instituição.

Todas as atrizes presentes concordam que a Universidade de Coimbra devia fazer um melhor trabalho na divulgação dos eventos organizados pelos organismos autónomos e na formação de público. Apesar das dificuldades referidas, estimam que o teatro universitário permite uma grande liberdade de criação, devendo ser mais valorizado.

Por fim, o coletivo DEMO, Dispositivo Experimental, Multidisciplinar e Orgânico, apresentou o concerto-performativo, Flôr-Boca-Osso, obra inserida no Projecto Casulos da Direcção Regional da Cultura do Centro, que tem na sua base de conceção a temática e obras de José Malhoa, Dado e Carolein Smit presentes na Exposição Casulos.

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